segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Burrice tucana

Quando saiu a propaganda do Serra fiquei espantado com a desorientação da oposição de direita. Depois do Silva vem o Zé era demais. Em seguida, a propaganda piorou, afirmando que Lula e Serra eram dois grandes homens públicos. As pesquisas eleitorais logo depois mostraram o crescimento de Dilma e sua possibilidade real de ganhar no primeiro turno. Também pudera.
A tática dos tucanos se apoiou num fato certo: Lula manteve o plano econômico de FHC, a mesma política monetária e as políticas sociais compensatórias. E daí tiraram a conclusão de que poderiam disputar a herança de Lula como se o apoio ao governo fosse um apoio à continuidade da política tucana levada adiante pelos petistas, bastando, portanto, reivindicar algo desta herança e mostrar que depois do Silva vem o Zé. Antes disso tiraram as gravatas dos tucanos candidatos para tentar colá-los na população. Não deu certo, nem dará.

O apoio ao governo Lula de uma parte expressiva da população é real e está na base das intenções de voto para Dilma. Este apoio se deve a uma combinação de elementos, entre os quais se inclui medidas sociais compensatórias dos planos de ajuste capitalistas, como a bolsa família e o Prouni para citar duas fundamentais para quem recebe. E quando alguém recebe, não quer correr o risco de perder e fica grato a quem "concedeu". Num país como o Brasil, onde os direitos são tão desrespeitados, o que é uma obrigação do Estado muitas vezes é visto como concessão do governante de plantão.

Mas as medidas compensatórias explicam apenas parte do apoio. Os aparatos sindicais defendem o governo com unhas e dentes e refletem os interesses de uma burocracia sindical e estatal que tem crescido em peso econômico, com os fundos de pensão, e pelo seu papel de controle e de colaboração com as gestões capitalistas das grandes empresas estatais, como Petrobrás, Banco do Brasil, CEF, além de sua colaboração com a patronal. Nunca a CUT foi tão domesticada pela patronal como agora. Os grandes capitalistas agradecem. E pagam esta colaboração também em apoio ao governo Lula, governo que tem servido para a expansão destes capitais inclusive para outros países da América Latina. Falamos do apoio de lula à Odebrecht, a Vale do Rio Doce, a Camargo Correia, a Gerdau, e um longo etctera. Os capitalistas estão ganhando muito no governo Lula, a começar pelos bancos.
Mas as pesquisas de intenção de voto escondem um fato: não há entusiasmo com o governo. A ideia de que o país está muito bem, vendida na propaganda oficial, não bate com o sentimento das ruas. Há não apenas muito descrédito com a política, mas também descontentamento com a situação social. Nas ruas temos visto que a consciência das pessoas não está apoiando a continuidade da situação como se encontra. Há uma preocupação clara com o futuro, uma reclamação generalizada com a falta de emprego, com as dificuldades da saúde, etc. E também é preciso que se diga: embora minoritária, há um espaço para uma verdadeira oposição, uma oposição de esquerda. O PSOL tem condições de avançar. Não é um avanço fácil, mas a dinâmica da situação não indica que a conciliação de classes seja a opção definida e muito menos definitiva dos trabalhadores brasileiros.

Wagner Moura apóia PSOL e a candidatura de Jean Wyllys.