quinta-feira, 8 de abril de 2010

Insurreição no Quirguistão e o atoleiro imperialista na Ásia

Passado a meia noite, começando a quinta-feira no horário de Brasília, “os violentos protestos liderados pela oposição e que derrubaram nesta quarta-feira o presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiev, provocaram 65 mortes” eram noticiados pelo AFP no UOL.

"Os confrontos deixaram 65 mortos e 495 feridos, incluindo 393 que precisaram de assistência médica", revelou um funcionário da Saúde.

Kurmanbek Bakiyev fugiu da capital do Quirguistão em um pequeno avião, enquanto a oposição anunciava a formação de um novo governo, depois de assumir o controle dos edifícios da Presidência e do Parlamento”, completava.

Alguns minutos antes, o último telejornal da Globo reproduzia as imagens da insurreição vitoriosa. As massas no centro da cidade tomando os tanques do exército e literalmente atropelando com paus e pedras as tropas que ainda resistiam. Ocuparam não apenas o Parlamento, a sede do governo, mas também a principal televisão. Claramente tomaram o poder, nas cenas clássicas de uma revolução em seu ponto mais alto, quando a insurreição toma as ruas. E ainda temos os que dizem que o assalto ao poder é movimento político que ficou apenas no passado, no exemplo do Palácio de Inverno. Pois os Palácios seguem sendo tomados.

“O presidente está refugiado na cidade de Osh, no sul do país, e o governo foi assumido pela ex-chanceler e líder da oposição Roza Otunbayeva” se lê ainda no UOL.. Foi esta ex-ministra de Relações Exteriores e líder opositora do Quirguistão Roza Otunbayeva que esteve entre as lideranças da chamada revolução de veludo, em 2005.

A vitória da revolução é uma derrota não apenas deste governo corrupto e privatista, mas também da política dos EUA e do seu novo governo Obama. Afinal, a estabilidade do Quirguistão e seu sinal verde para as tropas norte-americanas são fundamentais para a intervenção imperialista na Ásia. Sua população quase 100% alfabetizada de pouco mais de 5 milhões de habitantes vive num território de 199.900 Km2 encravado na Ásia Central, sem saída para o mar e cercado por quatro países: Uzbequistão a oeste, Cazaquistão ao norte, Tajiquistão a sudoeste (logo em seguida vem o Afeganistão) e China a leste e sudeste.
Com seu PIB atual de aproximadamente 11 bilhões de dólares, o Quirquistão conquistou a independência da ex-URSS em 1991 e tudo indica que os EUA terão dificuldades de torná-lo uma colônia ou semi-colônia de seu aparato bélico. Tudo indica, aliás, que o atoleiro do Afeganistão será maior.
Com o cultivo da papoula que garante 90% da heroína que corre pelo mundo, o Afeganistão é um país pobre com 86% da população analfabeta. A capital Cabul é abarrotada de gente. O país está durante anos arrastado por incalculáveis sofrimentos. Desde que a intervenção militar dos EUA derrubou o governo reacionário e criminoso dos Talebans, como era previsível, longe de contribuir na democratização do país, os EUA o transformou em território ocupado militarmente. Obama renovou a aposta militar e aumentou o envio de tropas. O empenho assumido é que o exército nacional afegão (ANA) passe dos atuais 100 mil efetivos para 171.600 até outubro do próximo ano. Também são cerca de 100 mil os policiais afegãos. A previsão é de que cheguem a 134 mil em outubro de 2011, conforme outro programa paralelo de formação que busca dar a Cabul forças de segurança (soldados e polícia) de 305.600 homens. As dificuldades, além do analfabetismo, são as deserções freqüentes.
A conclusão que vai se impondo é evidente: a situação mundial tem demonstrado que os EUA estão longe de ter a estabilidade necessária para reproduzir as condições de dominação de seu império.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Vizinhos em ação

Basta acompanhar os telejornais para perceber que as tentativas de busca e de resgates são em sua maioria realizadas pela própria população, pelos vizinhos sem materiais adequados, sem assistência, trabalhando sozinhos, com cordas, com pás, com as mãos. A defesa civil tem apenas 2000 homens colaborando, que se esforçam, mas que obviamente estão em número insuficiente. Hoje apenas cerca de 30 militares desembarcaram no Rio. Imaginem quantos precisariam para ajudar a abafar alguma revolta popular? Podem ter certeza que milhares a mais. Para auxiliar o povo nesta tragédia a ajuda pública é uma catástrofe aparte.

Já são 138 mortos

Hoje, no final da tarde, este já era o número oficial de mortos da tragédia do Rio de Janeiro: 138 mortos. Mais de 20 mil pessoas estão desabrigadas. Quem assistiu as cenas de televisão viu as pessoas desamparadas, sem assistência, sem informações, sem transporte, sem bombeiros. Eram horas para aparecer uma equipe de ajuda pública, seja de bombeiros ou de homens da defesa civil, capazes de ajudar as pessoas a enfrentarem um deslizamento, ou garantir botes para que pessoas pudessem sair dos coletivos ilhados ou outro tipo de imprevisto. As equipes de TV chegavam, mas assistência pública nada. Esta é a realidade do descaso com o serviço público.
O Brasil visivelmente está completamente despreparado para enfrentar qualquer tipo de acidente grave. E o Presidente Lula, com sua já conhecida esperteza na comunicação de massas, segue apostando, mais do que na sua capacidade, na ignorância alheia. Numa de suas principais entrevistas sobre a tragédia, disse simplesmente que o problema é que as pessoas não querem sair das casas que se encontram em áreas de risco. É incrível. Sabe-se que no Rio de Janeiro devemos ter mais de 20 mil famílias que vivem nestas áreas. Segundo Lula elas não saem dali porque não querem. O Presidente aposta mesmo na alienação e na desinformação. Mas neste caso muita gente sabe que as pessoas vivem em áreas de risco simplesmente porque não tem para onde ir. Preferem ficar em suas casas ameaçadas a ir para debaixo de pontes, viadutos e marquises de prédios.
O que o Brasil precisa é de uma verdadeira urbanização, uma reforma urbana capaz de garantir a construção de moradias e casas populares, provocando um multiplicador da capacidade de produção que permita o crescimento do emprego e da renda. Esta é a primeira lição da tragédia do Rio de Janeiro. Uma tragédia que mostra como o Brasil está longe de um verdadeiro desenvolvimento social e civilizatório.

O mundo sem saúde

Hoje é o chamado Dia Mundial da Saúde. É incrível como a demagogia não tem limites. Dia mundial da saúde? O que isso quer dizer? Não é preciso lembrar que mais de um bilhão de pessoas vive na miséria absoluta, talvez com menos de dois dólares por dia. São mais de um bilhão de pessoas que estão desempregadas e o sistema do mundo capital já mostrou que não tem a menor condição de garantir nem emprego nem salários minimamente decentes para centenas de milhões de pessoas. Saúde, então, nem pensar. Num quadro destes a saúde está entregue. No Brasil, como é óbvio, o quadro é de abandono: atenção básica sem recursos e sem pessoal, falta de atendimento médico, poucos e precários postos de saúde, filas nos hospitais, baixos salários dos profissionais. A saúde privada privilegiada e voltada para altas taxas de lucros e a saúde pública sem investimentos.
Na nossa aldeia local, Porto Alegre, há casos que beiram o absurdo: numa cidade de 1,5 milhões de habitantes, temos apenas um reumatologista para atender a rede ambulatorial do SUS (este é um dado do Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo). Enquanto isso, a mesma cidade de Porto Alegre teve quase 10 milhões de reais roubados de seus cofres públicos durante a gestão terceirizada dos Postos de Saúde da Prefeitura levada adiante pelo Instituto Sollus - Oscip com sede em Sorocaba - durante a administração de Eliseu Santos na secretária da saúde do governo Fogaça. Para que serve mesmo ter o dia mundial da saúde?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Às vezes tem algo na TV...

que vale a pena assistir. Hoje à noite o Roda Viva apresentou a entrevista com o jornalista Jeffrey Smith sobre os transgênicos e a indústria de biotecnologia com seu imenso poder e sua força para pautar a ação dos governos burgueses de plantão. O jornalista, autor do livro Roleta Genética, recém lançado no Brasil, mostra os riscos dos alimentos geneticamente modificados. Mostrou na entrevista como a indústria da biotecnologia, com a Monsanto na linha de frente, apoiada por governos irresponsáveis coloca em risco a saúde da população. Apesar da imensa força desta indústria, os seus estudos não provaram que tais alimentos são saudáveis. Inúmeros estudos sérios, por sua vez, mostram o contrário.
No caso dos estudos de Jeffrey são apontados 65 danos à saúde provocados pelos transgênicos. Diga-se de passagem, na Casa Branca os familiares da família Obama, nem os dos Bush, se alimentam com transgênicos. Mas em países como o Brasil os transgênicos estão liberados, generalizados. E o governo Lula os banca, defende os transgênicos e se soma à idéia absurda de que ser contra a produção transgênica e ser contrário à ciência e ao progresso. Por isso que no Brasil o MST e as mulheres da Via Campesina, vanguarda indiscutível na luta contra a criminosa produção transgênica sem controle, são tratadas como intolerantes e atrasados. Pois o que não se sabe - o que não se divulga - é que no mundo todo cientistas são perseguidos por provarem os prejuízos que estes alimentos provocam. Os argumentos destes cientistas que se recusam a curvar-se diante destas indústrias fez com que países como a Alemanha proíbam determinados produtos transgênicos - produtos alias que no Brasil estão totalmente liberados. Oxalá, às vezes temos bons programas na TV.

MP, polícia, CPI, assassinato e corrupção

No RBS notícias apareceu entrevista do vereador Pedro Ruas explicando a necessidade da CPI para investigar os desmandos na secretaria da saúde da capital dos gaúchos, particularmente sobre os 10 milhões que foram roubados da cidade de Porto Alegre na gestão de Eliseu Santos. Todos sabem que Eliseu foi assassinado em fevereiro. Lideranças do PSOL, a começar por Luciana Genro e pelo próprio Pedro Ruas, falaram e escreveram que se tratava de um crime por encomenda. A jornalista da Zero Hora, Rosane de Oliveira, disse a mesma coisa. Mas no dia seguinte mudou de idéia e passou a reproduzir a tese do latrocínio. Propagaram esta tese não apenas os policiais envolvidos na investigação, mas também o senhor diretor da Polícia Federal do Rio Grande, Ildo Gasparetto.
Pois o MP Estadual declarou que não foi latrocínio. Foi crime por encomenda, vinculado com a empresa de segurança, a tal de Reação. A investigação do MP provocou uma reviravolta no caso. O PSOL nunca tinha se convencido da tese da Polícia mas não tinha força tarefa, nem instrumentos, nem poder para questionar. O MP tem. E questionou. A empresa Reação era gerenciada por gente ligada ao crime, e tinha entre seus funcionários vários bandidos, bandidos mesmo, com passagem pela cadeia por todo o tipo de crime. É incrível. A tal de Reação chegou a fazer segurança até da Polícia Federal. "Cuidava" dos postos de saúde na gestão de Eliseu. Alguém, por favor, pode explicar o que é isso? O sujeito que ia ao posto de saúde podia ser assaltado. E de fato, na gestão de Eliseu, os cofres da cidade foram roubados em cerca de 10 milhões de reais. Neste caso pela ação do instituto Sollus, que gerenciava os postos de saúde. Isso já está provado. Além da Sollus tinha esta tal de Reação. Quem, por favor, vai me defender que esta gestão do secretário foi eficiente e ilibada? A CPI, portanto, é o mínimo que a Câmara deve fazer e Pedro Ruas está coberto de razão ao insistir no assunto. Ainda bem que agora a RBS teve que lhe dar a palavra. Aliás, façamos justiça com o jornalista André Machado que está pedindo, desde seu blog, CPI já! Parabéns André.
Além de pressionar pela CPI, vale torcer para que o MP possa ter mais elementos que ajudem a desmontar a quadrilha de criminosos que por uma razão ou outra mandou matar o secretário. Seria bom, aliás, que estas razões fossem mais bem esclarecidas. A Procuradora Lúcia Helena sustentou que foi por vingança, o que concordo, mas agregando uma linha de raciocínio da qual desconfio equivocada segundo a qual o secretário não aceitou as falcatruas da empresa, mandou terminar o contrato e bloquear os recursos da Reação. Este seria o motivo da vingança. Mas este é apenas um raciocínio. Se a procuradora seguir trabalhando talvez encontre relações entre a vítima e seus algozes que hoje ainda não estão claras. O certo é que tanto o instituto Sollus - que provocou um prejuízo comprovado de 10 milhões à cidade de Porto Alegre - quanto a empresa Reação, que tinha entre seus funcionários inúmeros bandidos, foram contratadas pelo então secretário da saúde. Seria uma boa começar a responder por que foram feitas estas contratações. Certamente o vereador Pedro Ruas e outros irão atrás destas e de outras perguntas que ainda sequer foram feitas.