sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Reflexões de Martiniano Cavalcante

Reproduzo um texto de Martiniano, pré-candidato a presidente pelo PSOL. Concordo em gênero, número e grau com sua análise.

REFLEXÕES SOBRE O PRIMEIRO DEBATE
Segunda-feira, dia 08 de fevereiro, um calor escaldante em semana de folia no Rio de Janeiro. Mesmo assim, a sede de política fez transbordar o auditório do Sindsprev, lotado e fervilhante em uma vitalidade empolgante. Aquela noite me deixou a sensação de ter vivido um momento histórico para o PSOL.

A apresentação das propostas políticas e programáticas para a campanha presidencial representadas por mim, por Plínio e por Babá, mostrou que a discussão recém iniciada se dá em torno de concepções contrapostas numa frontal oposição entre dois campos.

Não repetirei aqui a análise que desenvolvi em minha Carta ao Partido. Reafirmarei apenas que estamos diante de uma grande ameaça representada pelos que propõem um perfil de campanha acentuadamente propagandista e doutrinária. Caso esta linha prevaleça, acentuará os prejuízos eleitorais provocados pela ausência da companheira Heloísa Helena na campanha presidencial e pelo fato de não termos outra candidatura, com peso eleitoral, para substituí-la.

O isolamento político voluntário da campanha será desastroso para o nosso desempenho nas eleições parlamentares, colocando em maior risco ainda nossos poucos mandatos.

A dramaticidade que envolve nossas disputas pelos rumos do PSOL pode se revelar através de alguns temas ilustrativos que apareceram com muita força no debate de Rio de Janeiro.

A idéia de uma campanha que busque deliberadamente “chocar” a opinião pública, contrasta com o esforço de Plínio para se mostrar simpático e cordato. E que combina formas radicalizadas com conteúdos conservadores resultando numa verdadeira incongruência política. Apesar de, no debate, ter procurado evitar a confrontação mais profunda de concepções, ao externar sua compreensão sobre a reforma agrária permitiu-nos enxergar de maneira cristalina sua “criativa“ lógica de campanha eleitoral. Plínio citando com orgulho um depoimento ao Senado Federal, disse que o erro do MST não foi derrubar 7 mil pés de laranja durante a ocupação da fazenda da Cutrale em São Paulo. O erro foi não ter derrubado 70 mil pés de laranja. Convenhamos que é de fato uma abordagem de choque para quem defendeu uma concepção ultrapassada de Reforma Agrária como distribuição de minifúndios condenados a improdutividade e ao estrangulamento econômico.

Fiquei imaginando o resultado de uma exposição como esta feita pelo candidato do PSOL, num debate da TV Globo entre presidenciáveis e, sinceramente, não consegui dimensionar o tamanho do desastre.

Nessa mesma linha de raciocínio, nosso companheiro assumiu uma postura ecológica de extrema radicalidade ao tratar do Pré-Sal, insinuando que seria melhor não explorá-lo por conta dos efeitos negativos sobre o meio ambiente.

Não há como negar que essa abordagem pouco convencional é realmente chocante, mas, em minha opinião, resultará exatamente no efeito contrário ao desejado pelo companheiro Plínio. Acredito que os setores de massa que demonstraram simpatia pela Campanha Presidencial de Heloisa em 2006, pelo PSOL e por nossos parlamentares tenderão a se afastar de nós, tomando-nos por incoerentes e infantilmente radicais.

O Babá, que tanto lutou para ser pré-candidato comportou-se no debate como se fosse um auxiliar do Plínio. Não lhe dirigiu uma única crítica enquanto me atacava de maneira feroz e renitente. Insistiu na repetição incansável de uma interpretação absolutamente equivocada sobre a política do PSOL para Marina Silva. Afirmou, inúmeras vezes, que a base partidária derrotou a política traidora da direção que, segundo ele, queria apoiar a qualquer custo a candidatura de Marina Silva. O Plínio em nota sobre o debate em seu site me faz acusação semelhante.

Na verdade distorcem os fatos porque, nem a base derrotou a direção e nem a direção buscou aliança a qualquer custo com Marina. O Diretório Nacional aprovou, em dezembro de 2009, por aproximadamente 2/3 de seus membros, a continuidade das negociações e ao mesmo tempo as condições e exigências que deveriam orientá-las. Em janeiro de 2010 a Executiva Nacional, por unanimidade, aprovou a proposta, apresentadas por nós, encerrando as negociações com o PV e com Marina.

Reafirmo a minha convicção de que a Direção do PSOL encaminhou a política correta para o assunto. Dirigentes da APS, MES, ENLACE, PODER POPULAR e independentes que foram responsáveis pela condução daquela política não foram em nenhum momento derrotados pela base. Ao contrário, conduziram o Partido, deixando-o em posição privilegiada para disputar o voto e a simpatia dos setores de massa, mais conscientes, que são atraídos pela candidatura de Marina Silva.

Volto novamente ao cenário de um debate entre presidenciáveis. Vejo em uma hipótese o candidato do PSOL atacando a direção do nosso Partido por ter cometido um grave erro ao procurar aliança com a candidata do PV, atacada por uma bateria de adjetivos. “Eco-capitalista, engolidora de sapo no governo Lula, aliançada com corruptos”, etc, etc, etc. Nesta hipótese, o mais provável é que os simpatizantes de Marina Silva repudiassem nossa conduta em vez de se aproximarem de nós.

Outra situação bem distinta envolveria um candidato do PSOL que defendeu aliança com Marina para que ela, ao lado do PSOL, assumisse uma postura de independência e de oposição à falsa polarização PT x PSDB, defendendo as principais reivindicações dos movimentos sociais, combatendo a política neo-liberal e defendendo o meio ambiente. Neste caso, nosso candidato poderia dizer que, infelizmente, Marina se negou a adotar postura que propusemos e preferiu ir para os braços do PSDB e DEM conduzida por Gabeira que com esses Partidos se aliançou para disputar o governo do Rio de Janeiro.

Não é preciso muito esforço para discernir, dentre as hipóteses anteriores, a situação mais favorável ao dialogo entre o candidato do PSOL e os setores de massas sensíveis à candidatura do PV. Mas, a lamentável e ferrenha oposição à política da maioria da direção do PSOL nasce de um dogma que também embasa a oposição a Chaves e a Evo Morales. Que repudia a aliança entre o PSOL e PSB de Capiberibe, feita no Amapá para disputar as eleições Municipais de 2008.

Eu acredito que a influencia do PSOL pode crescer, disputar e deslocar setores sociais e partidários, representantes das camadas médias e da pequena burguesia que hoje vacilam entre um dos blocos de poder do PT e do PSDB. Para mim, esta é uma tarefa fundamental que o partido revolucionário deve realizar se quiser construir uma alternativa de poder.

Plínio e Babá, em outra frente de polemicas, acusam-me de ser contra a Frente de Esquerda. Com todo respeito aos dois companheiros, creio que fazem demagogia sobre o assunto. Desconsideram, olimpicamente, que o PSTU tem candidato lançado à presidência da republica. Procurado pelo PSOL, José Maria de Almeida nos informou que seu partido reivindicaria a vice de Heloisa Helena caso ela fosse candidata. Segundo ele, sem Heloisa no páreo, poderiam pleitear a cabeça de chapa.

Plínio e Babá estariam dispostos a fazer essa concessão? Teriam eles forças e mandato para negociar a cabeça de chapa para o PSTU nas Coligações de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas gerais? Por que nossos companheiros desconsideram as dificuldades programáticas para um acordo entre PSOL e PSTU?

Não é verdade que no debate me manifestei contra a frente de esquerda. Afirmei sim, que vender ilusões a respeito do tema desarma o PSOL. Defendo que após a escolha de nosso candidato à presidência, procuremos novamente o PSTU e o PCB, cientes das dificuldades para a realização de uma aliança. Tais agremiações tem todo interesse em disputar o espaço político ocupado pelo PSOL e, na ausência de Heloísa Helena, se sentem estimulados a apresentar candidaturas próprias.

Para encerrar, quero lembrar um questionamento que fiz ao companheiro Plínio de Arruda Sampaio, com todo respeito à sua história e admirável disposição para lutar por suas convicções. Refiro-me à resposta de Plínio, em entrevista à Carta Capital, quando perguntado “se acha que o governo de Lula foi melhor que o de FHC, ou pior?. Plínio disse “Ah, de longe, muito melhor. É que o talento de Lula é maior que o de Fernando, Lula é um homem talentosíssimo. Ele é de certo modo, pegue a palavra com muito cuidado, ele é de certo modo um impostor, mas o impostor que acredita na própria impostura. Não é um demagogo, quando Lula chora, chora mesmo. Não é Jânio Quadros, que chorava lágrimas de crocodilo. Ele não, aquela explosão de choro quando o Brasil foi escolhido para a Copa... imaginem se o Fernando Henrique seria capaz de chorar. Aquilo tem um efeito popular enorme, porque é autentico, porque é verdadeiro. E o Lula é um homem mais humano, sofreu mais, conhece mais.”

Qual a necessidade desses elogios ao “Lula, o filho Brasil”? Seria tão difícil igualar a corrupção nos dois governos, os privilégios dos banqueiros, as alianças com as oligarquias tipo Sarney, Renan e Collor comuns a Lula e FHC? E o caráter de classe comum a ambos? Lamento que o companheiro Plínio não tenha respondido a esta provocação que lhe fiz. Mas, apesar das lacunas o debate foi, ao mesmo tempo, muito esclarecedor e estimulante para os próximos que virão.

Agradeço a todas as manifestações de apoio especialmente as palavras da companheira Heloisa Helena apresentando a candidatura que represento. São um estímulo indispensável para que possa cumprir essa enorme tarefa com humildade e muito orgulho.

Martiniano Cavalcante.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Poder oficial dos golpistas reacionários

O general Maynard de Santa Rosa foi exonerado após chamar publicamente de "comissão de calúnia", a comissão da verdade recentemente definida no Plano Nacional de Direitos Humanos. Já tinha sido evidente as pressões golpistas de direita no interior do governo Lula quando o ministro Nelson Jobim foi contrário a pontos importantes da proposta apresentada originalmente, entre as quais estava previsto a comissão da verdade para investigar explicitamente a repressão dos golpistas militares. Jobim, como porta voz dos interesses desta cúpula militar defensora dos interesses da ditadura de 64, venceu parcialmente a luta interna e dilui o papel da comissão. Mas sua vitória foi parcial porque a comissão foi decidida.
Pois o general agora exonerado comprovou a livre atividade dos defensores do golpe de 64 no interior do alto escalão do governo. Não estamos falando de quaisquer posições. Afinal, tal general chegou ao absurdo de dizer e escrever que os integrantes da comissão são "fanáticos que, no passado recente adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime...". Os membros da comissão foram escolhidos pela ministra Dilma. Mesmo assim, o sujeito estava até ontem entre os quinze membros do Alto Comando do Exército. É incrível que em 8 anos de mandato o presidente Lula nao tenha realmente se esforçado para isolar nas Forças Armadas os setores mais reacionários vinculados aos golpes.
Na Argentina, onde a ditadura foi derrotada por mobilizações revolucionárias, o Exército nao tem força social para tutelar a sociedade. No Brasil, apesar de passados mais de 20 anos do fim do regime militar, uma cúpula reacionária ainda provoca crises e tem peso real no próprio governo Lula. A exoneração, diante da carta do general, era uma medida evidente. Se o governo não fizesse isso estaria totalmente desmoralizado. Mas que este general tenha estado em postos tão importantes até agora é o que realmente deveria chamar a atenção. Sabe-se, aliás, que sua exoneração apenas lhe afasta de função, já que o mesmo assumirá o novo posto de adido do comandante do Exército, General Enri Peri. Assim, em março passa para a reserva, por tempo de serviço e nao perde nada de seus privilégios e regalias.
De fato a luta pela democratização segue como uma das bandeiras centrais no Brasil. Luta esta que encontra no governo Lula um governo que alberga e mantém privilégios e poderes dos defensores da reação e do golpe.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Max Weber

Estou escrevendo um pequeno livro que entre outras questões traz notas breves sobre Max Weber. São notas críticas, mas reconheço ao mesmo tempo sua capacidade. Antecipo uma das passagens brilhantes deste pensador alemão que realmente podemos considerar uma aula de política. Trata-se da relação entre o sentido das proporções e da vaidade. Weber argumenta que a paixão é fundamental na política mas a mesma não transforma um homem em político se não estiver a serviço de uma causa nem tampouco faz da responsabilidade o elemento ordenador da ação. Para isso Weber sustenta que é determinante a qualidade psicológica da medida, “a capacidade para deixar que a realidade atue sobre a pessoa sem por isso perder o domínio e a tranqüilidade” (Editorial Presença – Lisboa - página 115. A partir daí vem a parte mais interessante e a lição mais lúcida. Weber define que para ter sentido das proporções o político deve combater a tão comum vaidade, “inimiga de toda entrega a uma causa e de toda a medida, neste caso particular a medida de si próprio”. Depois de comentar as repercussões da vaidade em outras atividades humanas, como na ciências, concluindo que neste caso seus estragos não são graves, Weber vai ao grão. Não é nenhum exagero cita-lo longamente:
“No político, que utiliza inevitavelmente como arma o desejo do poder, os seus resultados são muito diferentes. O “instinto de poder” como se lhe costuma chamar, está assim, de fato, entre a suas qualidades normais. O pecado contra o Espírito Santo de sua profissão começa no momento em que este desejo de poder deixa de ser positivo, deixa de ser exclusivamente ao serviço da “causa” para se converter em pura embriaguez pessoal. Em última análise só existem dois pecados mortais na política: a ausência de finalidades objetivas e a falta de responsabilidades. Esta coincide frequentemente, embora não sempre, com aquela. A vaidade, a necessidade de aparecer em primeiro plano sempre que seja possível, é o que mais leva o político a cometer um destes pecados ou os dois ao mesmo tempo. E tanto mais quanto é certo que o demagogo é obrigado a ter em conta o “efeito”; por isso se encontra sempre no perigo de se converter em comediante ou de não dar a devida atenção à responsabilidade que lhe incumbe as conseqüências dos seus atos, preocupando-se apenas com a “impressão” que provoca. A sua ausência de finalidade objetiva torna-o propenso a procurar a aparência brilhante do poder em vez do poder real” (idem, página 117)
São sábias palavras. Acredito que Weber está completamente certo ao afirmar a vaidade como principal defeito de um político que queira realmente servir a uma causa coletiva. E acrescentaria que é a principal base psicológica para o oportunismo político que busca sempre o resultado no presente, imediato, mesmo que para tanto tenha que abdicar do futuro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O debate dos pré-candidatos do PSOL

Estive no debate dos pré-candidatos do PSOL no Rio de Janeiro. Entre as distintas análises que serão feitas deste momento de disputa dos rumos do PSOL e de escolha do seu representante para o pleito nacional, tenha certeza de que pelo menos uma questão todas terão em comum: foi impressionante, e tremendamente positivo - e para a maioria das pessoas surpreendente - a grande participação da militância.Foi uma demonstração da força do PSOL do Rio de Janeiro, expressa também no mandato do deputado Marcelo Freixo e nas recentes filiações do músico Marcelo Yuka e do ex BBB Jean Willis. O auditório do Sindicato dos Previdenciários, no belo bairro da Lapa, estava lotado. O ar condicionado não deu conta. Foram mais de 500 militantes que em plena véspera de feriado carnavalesco – e no Rio já de fato em carnaval – compareceram e escutaram atentamente os três pré-candidatos, Plínio, Babá e Martiniano pela ordem das exposições. Antes deles, o mediador Leo Lince convocou as forças de cada candidatura a destacar um integrante para apresentar e defender seu pré-candidato. Plínio foi apresentado por Milton Temer, Babá pelo sindicalista de São José dos Campos, o químico Cabral, e Martiniano por Heloísa Helena.
Heloísa usou a palavra e logo disse que não aceitou a oferta que lhe fizeram para que ela falasse na condição de presidente porque neste caso era especialmente importante que ela deixasse absolutamente claro que tem lado na disputa: a defesa do nome de Martiniano. Não queria, portanto, falar em nome de todos. Queria defender Martiniano Cavalcante. De minha parte creio que foi o ponto mais alto e mais significativo de toda a discussão. Afinal, e já começando uma análise política do que está em discussão, Heloísa Helena sabe que esta batalha interna expressa uma luta para dar continuidade e desenvolver o trabalho iniciado com a fundação do PSOL. Defender o caráter fundacional do partido foi o principal motivo de sua clara opção por Martiniano.
Vou pedir que você me acompanhe neste texto se estiver interessado nos rumos do PSOL. Afinal, é isso que está em discussão, embora este debate nem começou agora nem vai se encerrar na Conferência eleitoral nacional, independente de qual seja o seu resultado. Sobre o debate iniciado no RJ, de minha parte não tenho dúvidas de que Martiniano fez a melhor exposição. O mais contundente, o mais firme, o que se demonstrou com mais condições de representar o acúmulo programático e político do PSOL. Demonstrou ser quem melhor pode nos representar nos programas e, sobretudo, nos debates de TV, que será o momento mais alto da participação do partido no pleito nacional. Que fará uma campanha com condições de “peitar” Dilma e Serra e divulgar a legenda do PSOL.
Dito isso, acrescento o que é óbvio: todos os representantes das pré-candidaturas vão dizer que seu candidato ganhou o debate. Este roteiro também eu cumpro à risca. Afinal, todos que me conhecem sabem que estou entre aqueles que participam da vida do partido expressando e defendendo posições, não me escondendo ou dissimulando ideais. Por isso faço uma sugestão a todos e todas camaradas psolistas: assistam o vídeo, acessem no you tube (e creio que nestas horas já podem encontrá-lo também no site da camarada Luciana Genro, com que embarquei de Porto Alegre para juntos presenciarmos este primeiro debate de preparação da conferência eleitoral do PSOL). Então, assistam as exposições e tirem suas próprias conclusões.
Para sustentar a minha, me apoio não apenas no debate de ontem. Penso também que a carta aberta que Martiniano apresentou a todos e todas militantes do partido mostra que ele está melhor preparado. Trata-se de um documento político que ordena corretamente as tarefas da campanha nacional do PSOL. Peço que todos os militantes leiam com atenção este excelente documento e leiam também os documentos de lançamento dos outros dois pré-candidatos. Nestes textos mais do que em qualquer outra forma cada um terá ótimas condições de escolher o melhor caminho para o partido. De minha parte estou com Heloísa Helena.
Acreditando que todos acessaram o vídeo, não vou resumir nenhuma fala e me detenho apenas em considerações de algumas questões. Uma questão me chamou a atenção. Os dois candidatos que entraram na discussão, na polêmica, que na sua fala deixaram claro que propostas representam foi Babá e Martiniano. Babá passou o tempo todo atacando o PV e a direção do PSOL, acusando a direção do Rio de Janeiro de burocrática e responsabilizando a candidatura de Martiniano como responsável de todos os problemas do partido. Seu centro, como, já disse, foi atacar a possibilidade que havia se aberto de apoiar Marina casa ela aceitasse ser uma candidatura de enfrentamento à polarização conservadora do PT e do PSDB. Mas na fala de Babá não existiu nenhuma análise da correlação de forças, do peso do governo, da situação da economia real, das experiências dos governos latino americanos de Evo Morales e Chavez. Nenhuma palavra.
Mas o que me chamou atenção foi que Babá se dedicou a atacar a pré-candidatura de Martiniano. Parecia, sinceramente, uma candidatura encomendada para que Plínio falasse sobre o humano e o divino e não entrasse na polêmica real enquanto Babá mostrava, supostamente, as garras do combate. Digo supostamente porque a intervenção do Babá ficou nisso: ataque a Marina, como se esta questão já não estivesse resolvida. Mas quando me revelo surpreso é pelo fato de que Babá pessoalmente, dias antes do debate, havia me dito que não gostaria de polemizar com Martiniano. Me disse que respeitava muito Martiniano, que havia fundado o PSOL junto com ele e que a candidatura que ele considerava inaceitável era a candidatura de Plínio pelo fato de Plínio – com todo o respeito que merece – não representar este acúmulo da fundação. Estes eram os argumentos de Babá. Argumentos, inclusive, que segundo ele justificavam o lançamento do seu nome. Não foi isso o que ele disse no debate. Revelou-se, mais uma vez, como orgulhosamente reivindica, um homem de corrente. Neste caso a CST, que tem como centro atual de sua tática interna atacar o nome de Heloísa Helena e que tem como definição de que a direção do PSOL tem uma maioria reformista que deve ser derrotada.
Assim, com a fala de Babá, percebi que a primeira expressão pública da campanha de Babá pode ter sido o seu início e o seu final ao mesmo tempo. Se Babá sustentar sua campanha com base nos argumentos que ele dizia que o motivaram a lança-la, então seu nome sairá fortalecido independente do resultado numérico da votação. Se sua campanha seguir na linha da CST – que até agora fez de tudo para isolar o nome de Babá - tudo indica que seu nome será no final retirado da disputa e sua função pró-Plínio revelada neste primeiro debate se desdobrará na derrota política de Babá que aceitará se anular como líder público em nome de ideias marcadas pelo dogmatismo e do sectarismo. Estas nas mãos de Babá decidir esta questão.
Na sua intervenção Martiniano corretamente tentou sintetizar sua carta ao partido. Reivindicou que foi correta a tática de abrir negociações com Marina e disse que esta política foi a expressão da velha política das cartas abertas e de exigências preconizadas por Lenin. Disse que esta política é a que nos permitirá no debate de TV dizer claramente para Marina uma ideia que transcrevo livremente “ Marina, nós do PSOL queríamos nos unir com você para construir uma alternativa ao PT e ao PSDB/DEM, mas você se recusou a esta união e escolheu se aliar ao PSDB. Por isso os que querem um país melhor, que não concordam nem com Dilma e nem com Serra devem vir juntos com o PSOL, votar no 50 de Heloísa Helena” Não há dúvida de que esta abordagem nos dá força para enfrentá-la. Martiniano também defendeu a unidade com o PSTU e a Frente de esquerda. Mas não vendeu a idéia fácil de que a aliança esta resolvida. E deixou claro que nossa prioridade é a legenda do PSOL. Aliás, todos os pré-candidatos que dizem querer a aliança com o PSTU precisam começar a dizer o que estão dispostos a ceder para concretizar esta aliança. A campanha de Plínio, por exemplo, precisa dizer se vai defender que a cabeça de chapa em SP será ou não do PSTU. O que não pode é propagar algo que está longe de ocorrer, a saber, que o nome escolhido pelo PSOL é o que facilita realizar a composição ou não com o PSTU. Aliás, se fosse para dar um nome não tenho dúvida de que Martiniano, pelo seu peso interno no PSOL, teria mais condições de conduzir as negociações capazes de realizar a coligação. Mas nem isso pode garantir de antemão ter o PSTU nem o PCB ao nosso lado.
Na exposição de Martiniano, o companheiro apresentou uma crítica às declarações de Plínio na revista Carta Capital. Plínio nesta entrevista diz que o governo de Lula foi muito melhor do que o de FHC e de que Lula é um homem autêntico, que sente de verdade os problemas do povo, destacando características humanas que fortalecem a imagem de um líder de massas respeitável. Quem assistir o vídeo talvez me acompanhe na posição de que Martiniano depois de ler a citação de Plínio não desenvolveu, por falta de tempo, a conclusão fundamental, isto é, de que o candidato do PSOL não pode ser um comentarista que diz se um governo foi melhor que o outro ou se ele é amigo do Serra ou da Dilma, mas destacar o caráter nefasto do PT e do PSDB, mostrar de modo claro que precisamos de uma alternativa, de que tanto PT quanto o PSDB são projetos vinculados com os bancos, com os grandes empresários e particularmente com megaesquemas de corrupção.
Mas Martiniano foi além. Teve a ousadia de abordar temas complexos: correlação de forças entre as classes, relação da insurreição com a revolução, modelo de produção e de consumo. Infelizmente, os outros candidatos estiveram longe disso, ou os abordaram apenas superficialmente. De minha parte, embora concorde com a análise que a correlação de forças é desfavorável, tal como disse Martiniano no debate, exigindo, portanto, mais do que nunca, a política como arte para transformar a realidade, a mediação como categoria fundamental na elaboração da tática, sustento também que existem inúmeras oportunidades que estão abertas para os revolucionários. Ademais, mesmo com a correlação de forças sendo desfavorável, por conta, sobretudo, da confusão na consciência das massas, pela falta de uma alternativa política socialista e pela própria descrença na possibilidade da existência de uma alternativa, temas tocados por Martiniano, estamos num momento muito mais favorável do que outros momentos da história.
A classe trabalhadora e a humanidade, por exemplo, derrotaram o nazismo. Depois disso, foi pela ação da classe trabalhadora que inúmeras reformas sociais foram conquistadas na Europa e aqui, na nossa América Latina, foram os trabalhadores os sujeitos sociais fundamentais da derrota das ditaduras militares genocidas. Agora, também em nossa América Latina, os trabalhadores e as classes médias empobrecidas conquistaram governos nacionalistas e democráticos na Venezuela e na Bolívia, mostrando que surgiu uma corrente nacionalista revolucionária que não se via no continente desde a revolução cubana. Estes governos não existiriam sem a combinação de conquistas democráticas e levantes de massas, inclusive insurreições populares. Baixado a terra para o Brasil, a própria possibilidade do PSOL, na esteira do acúmulo de três décadas da esquerda que a própria existência do PSOL não permitiu que se perdesse de todo, mostra que a correlação de forças, embora desfavorável, nos coloca brechas para atuar e crescer, fortalecendo um polo socialista. Heloísa Helena segue sendo a personificação e símbolo deste acúmulo, não o único, mas o principal. Martiniano, aliás, é o único pré-candidato que percebe a importância desta liderança que conecta o PSOL hoje com a possibilidade de realmente disputar as massas e, portanto, de se colocar como alternativa de luta pelo poder.
Finalmente, a crise econômica capitalista mostra que, apesar da continuidade da defensiva das ideias socialistas, o capital também está deslegitimado – ou se deslegitimando -como modo de produção capaz de reproduzir a sociedade em constante progresso material. Traz cada vez mais desigualdade e destruição. A crise iniciada em 2007 apenas está dando seus primeiros passos e abriu, provavelmente, todo um período histórico novo capaz de recolocar a ofensiva socialista na ordem do dia. É óbvio que isso não se desenvolverá sem partido e sem política concreta que parta da análise concreta da situação e concreta e da relação de forças entre as classes. Martiniano teve a ousadia de entrar nestes temas. Vamos todos seguir desenvolvendo-os. No que diz respeito à política, Martiniano reafirmou a importância da luta contra a corrupção. Plínio, mais uma vez, não disse nada sobre isso. Parece desconhecer a vida do PSOL gaúcho que se fortaleceu em 2009 por ser o campeão da luta contra o governo corrupto do PSDB. Parece desconhecer a importância do PSOL do Distrito Federal, que com a direção de Enrique Morales, Toninho e Maninha, esteve na linha de frente do combate contra Arruda, o que fortaleceu o PSOL no Distrito Federal e nos abriu novas oportunidades. Martiniano mostrou não desconhecer a importância destas políticas.

Para finalizar quero comentar uma metáfora feita por Plinio acerca da correlação de forças entre as classes, aliás a única abordagem que fez sobre o assunto. Plínio bem humorado fez a metáfora da experiência com ratos que correm atrás de um queijo colocado a frente deles e que, justo na hora em que o queijo vai ser agarrado, o pesquisador tira o queijo e o rato se frustra. O rato tenta uma vez, quando vai pegar o queijo , o queijo é tirado. Na segunda, idem. Na terceira, idem. Na quarta, o queijo é posto na frente para que o rato corra para pegá-lo, mas o rato já não se mexe mais, desiste de ir atrás do queijo. Na metáfora o povo seria o ratinho, depois das frustrações que viveu ao longo dos últimos anos, a maior delas com Lula. De fato ocorreram muitas frustrações. De fato o povo esta desmobilizado. Mas acho infeliz a comparação com os ratinhos porque despreza um fenômeno fundamental: a consciência das massas populares. Muitas vezes quando os pés não estão andando muito a cabeça está tirando conclusões. Mas a desconsideração de Plínio pela consciência revelada nesta metáfora ( que se expressa também na pouco importância que Plínio atribui à luta contra a corrupção como elemento de desenvolvimento da consciência de classe) tem uma expressão mais grave: sua falta de compreensão acerca da importância do partido, em particular do PSOL
Não é uma questão de honestidade deste militante de 79 anos que milita mais do que muitos jovens de 29, sendo neste sentido um exemplo. Respeito Plínio como militante. Por isso também respeito suas ideias. Mas respeitar não quer dizer concordar, necessariamente. Plinio entende a recomposição da esquerda como um processo horizontal onde o PSOL é uma parte, mas não necessariamente a parte dirigente. Nós pensamos que o PSOL tem a vocação para ser a parte dirigente e sem o protagonismo do partido como central não há como – pelo menos neste período histórico – uma recomposição que realmente se efetive e coloque a luta pelo poder como luta central, em torno do qual o rumo do país se decide. Por isso em muitos dos seus artigos recentes escritos na Folha de SP, Plínio sequer se apresentava como militante do PSOL, se apresentando apenas como ex-deputado federal do PT. Por isso creio que no fundo Plínio não entende a importância da campanha chamando o voto na legenda do PSOL. E não é uma importância apenas eleitoral, que por si só já seria justificável. E para fortalecer a sigla do partido, para fortalecer o partido como carro chefe das lutas sociais, como condutor, como partido dirigente da classe trabalhadora e do povo pobre na defesa das suas demandas imediatas e em sua mobilização permanente até a conquista de um governo revolucionário dos trabalhadores e do povo.