O general Maynard de Santa Rosa foi exonerado após chamar publicamente de "comissão de calúnia", a comissão da verdade recentemente definida no Plano Nacional de Direitos Humanos. Já tinha sido evidente as pressões golpistas de direita no interior do governo Lula quando o ministro Nelson Jobim foi contrário a pontos importantes da proposta apresentada originalmente, entre as quais estava previsto a comissão da verdade para investigar explicitamente a repressão dos golpistas militares. Jobim, como porta voz dos interesses desta cúpula militar defensora dos interesses da ditadura de 64, venceu parcialmente a luta interna e dilui o papel da comissão. Mas sua vitória foi parcial porque a comissão foi decidida.
Pois o general agora exonerado comprovou a livre atividade dos defensores do golpe de 64 no interior do alto escalão do governo. Não estamos falando de quaisquer posições. Afinal, tal general chegou ao absurdo de dizer e escrever que os integrantes da comissão são "fanáticos que, no passado recente adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime...". Os membros da comissão foram escolhidos pela ministra Dilma. Mesmo assim, o sujeito estava até ontem entre os quinze membros do Alto Comando do Exército. É incrível que em 8 anos de mandato o presidente Lula nao tenha realmente se esforçado para isolar nas Forças Armadas os setores mais reacionários vinculados aos golpes.
Na Argentina, onde a ditadura foi derrotada por mobilizações revolucionárias, o Exército nao tem força social para tutelar a sociedade. No Brasil, apesar de passados mais de 20 anos do fim do regime militar, uma cúpula reacionária ainda provoca crises e tem peso real no próprio governo Lula. A exoneração, diante da carta do general, era uma medida evidente. Se o governo não fizesse isso estaria totalmente desmoralizado. Mas que este general tenha estado em postos tão importantes até agora é o que realmente deveria chamar a atenção. Sabe-se, aliás, que sua exoneração apenas lhe afasta de função, já que o mesmo assumirá o novo posto de adido do comandante do Exército, General Enri Peri. Assim, em março passa para a reserva, por tempo de serviço e nao perde nada de seus privilégios e regalias.
De fato a luta pela democratização segue como uma das bandeiras centrais no Brasil. Luta esta que encontra no governo Lula um governo que alberga e mantém privilégios e poderes dos defensores da reação e do golpe.
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