Reproduzo um texto de Martiniano, pré-candidato a presidente pelo PSOL. Concordo em gênero, número e grau com sua análise.
REFLEXÕES SOBRE O PRIMEIRO DEBATE
Segunda-feira, dia 08 de fevereiro, um calor escaldante em semana de folia no Rio de Janeiro. Mesmo assim, a sede de política fez transbordar o auditório do Sindsprev, lotado e fervilhante em uma vitalidade empolgante. Aquela noite me deixou a sensação de ter vivido um momento histórico para o PSOL.
A apresentação das propostas políticas e programáticas para a campanha presidencial representadas por mim, por Plínio e por Babá, mostrou que a discussão recém iniciada se dá em torno de concepções contrapostas numa frontal oposição entre dois campos.
Não repetirei aqui a análise que desenvolvi em minha Carta ao Partido. Reafirmarei apenas que estamos diante de uma grande ameaça representada pelos que propõem um perfil de campanha acentuadamente propagandista e doutrinária. Caso esta linha prevaleça, acentuará os prejuízos eleitorais provocados pela ausência da companheira Heloísa Helena na campanha presidencial e pelo fato de não termos outra candidatura, com peso eleitoral, para substituí-la.
O isolamento político voluntário da campanha será desastroso para o nosso desempenho nas eleições parlamentares, colocando em maior risco ainda nossos poucos mandatos.
A dramaticidade que envolve nossas disputas pelos rumos do PSOL pode se revelar através de alguns temas ilustrativos que apareceram com muita força no debate de Rio de Janeiro.
A idéia de uma campanha que busque deliberadamente “chocar” a opinião pública, contrasta com o esforço de Plínio para se mostrar simpático e cordato. E que combina formas radicalizadas com conteúdos conservadores resultando numa verdadeira incongruência política. Apesar de, no debate, ter procurado evitar a confrontação mais profunda de concepções, ao externar sua compreensão sobre a reforma agrária permitiu-nos enxergar de maneira cristalina sua “criativa“ lógica de campanha eleitoral. Plínio citando com orgulho um depoimento ao Senado Federal, disse que o erro do MST não foi derrubar 7 mil pés de laranja durante a ocupação da fazenda da Cutrale em São Paulo. O erro foi não ter derrubado 70 mil pés de laranja. Convenhamos que é de fato uma abordagem de choque para quem defendeu uma concepção ultrapassada de Reforma Agrária como distribuição de minifúndios condenados a improdutividade e ao estrangulamento econômico.
Fiquei imaginando o resultado de uma exposição como esta feita pelo candidato do PSOL, num debate da TV Globo entre presidenciáveis e, sinceramente, não consegui dimensionar o tamanho do desastre.
Nessa mesma linha de raciocínio, nosso companheiro assumiu uma postura ecológica de extrema radicalidade ao tratar do Pré-Sal, insinuando que seria melhor não explorá-lo por conta dos efeitos negativos sobre o meio ambiente.
Não há como negar que essa abordagem pouco convencional é realmente chocante, mas, em minha opinião, resultará exatamente no efeito contrário ao desejado pelo companheiro Plínio. Acredito que os setores de massa que demonstraram simpatia pela Campanha Presidencial de Heloisa em 2006, pelo PSOL e por nossos parlamentares tenderão a se afastar de nós, tomando-nos por incoerentes e infantilmente radicais.
O Babá, que tanto lutou para ser pré-candidato comportou-se no debate como se fosse um auxiliar do Plínio. Não lhe dirigiu uma única crítica enquanto me atacava de maneira feroz e renitente. Insistiu na repetição incansável de uma interpretação absolutamente equivocada sobre a política do PSOL para Marina Silva. Afirmou, inúmeras vezes, que a base partidária derrotou a política traidora da direção que, segundo ele, queria apoiar a qualquer custo a candidatura de Marina Silva. O Plínio em nota sobre o debate em seu site me faz acusação semelhante.
Na verdade distorcem os fatos porque, nem a base derrotou a direção e nem a direção buscou aliança a qualquer custo com Marina. O Diretório Nacional aprovou, em dezembro de 2009, por aproximadamente 2/3 de seus membros, a continuidade das negociações e ao mesmo tempo as condições e exigências que deveriam orientá-las. Em janeiro de 2010 a Executiva Nacional, por unanimidade, aprovou a proposta, apresentadas por nós, encerrando as negociações com o PV e com Marina.
Reafirmo a minha convicção de que a Direção do PSOL encaminhou a política correta para o assunto. Dirigentes da APS, MES, ENLACE, PODER POPULAR e independentes que foram responsáveis pela condução daquela política não foram em nenhum momento derrotados pela base. Ao contrário, conduziram o Partido, deixando-o em posição privilegiada para disputar o voto e a simpatia dos setores de massa, mais conscientes, que são atraídos pela candidatura de Marina Silva.
Volto novamente ao cenário de um debate entre presidenciáveis. Vejo em uma hipótese o candidato do PSOL atacando a direção do nosso Partido por ter cometido um grave erro ao procurar aliança com a candidata do PV, atacada por uma bateria de adjetivos. “Eco-capitalista, engolidora de sapo no governo Lula, aliançada com corruptos”, etc, etc, etc. Nesta hipótese, o mais provável é que os simpatizantes de Marina Silva repudiassem nossa conduta em vez de se aproximarem de nós.
Outra situação bem distinta envolveria um candidato do PSOL que defendeu aliança com Marina para que ela, ao lado do PSOL, assumisse uma postura de independência e de oposição à falsa polarização PT x PSDB, defendendo as principais reivindicações dos movimentos sociais, combatendo a política neo-liberal e defendendo o meio ambiente. Neste caso, nosso candidato poderia dizer que, infelizmente, Marina se negou a adotar postura que propusemos e preferiu ir para os braços do PSDB e DEM conduzida por Gabeira que com esses Partidos se aliançou para disputar o governo do Rio de Janeiro.
Não é preciso muito esforço para discernir, dentre as hipóteses anteriores, a situação mais favorável ao dialogo entre o candidato do PSOL e os setores de massas sensíveis à candidatura do PV. Mas, a lamentável e ferrenha oposição à política da maioria da direção do PSOL nasce de um dogma que também embasa a oposição a Chaves e a Evo Morales. Que repudia a aliança entre o PSOL e PSB de Capiberibe, feita no Amapá para disputar as eleições Municipais de 2008.
Eu acredito que a influencia do PSOL pode crescer, disputar e deslocar setores sociais e partidários, representantes das camadas médias e da pequena burguesia que hoje vacilam entre um dos blocos de poder do PT e do PSDB. Para mim, esta é uma tarefa fundamental que o partido revolucionário deve realizar se quiser construir uma alternativa de poder.
Plínio e Babá, em outra frente de polemicas, acusam-me de ser contra a Frente de Esquerda. Com todo respeito aos dois companheiros, creio que fazem demagogia sobre o assunto. Desconsideram, olimpicamente, que o PSTU tem candidato lançado à presidência da republica. Procurado pelo PSOL, José Maria de Almeida nos informou que seu partido reivindicaria a vice de Heloisa Helena caso ela fosse candidata. Segundo ele, sem Heloisa no páreo, poderiam pleitear a cabeça de chapa.
Plínio e Babá estariam dispostos a fazer essa concessão? Teriam eles forças e mandato para negociar a cabeça de chapa para o PSTU nas Coligações de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas gerais? Por que nossos companheiros desconsideram as dificuldades programáticas para um acordo entre PSOL e PSTU?
Não é verdade que no debate me manifestei contra a frente de esquerda. Afirmei sim, que vender ilusões a respeito do tema desarma o PSOL. Defendo que após a escolha de nosso candidato à presidência, procuremos novamente o PSTU e o PCB, cientes das dificuldades para a realização de uma aliança. Tais agremiações tem todo interesse em disputar o espaço político ocupado pelo PSOL e, na ausência de Heloísa Helena, se sentem estimulados a apresentar candidaturas próprias.
Para encerrar, quero lembrar um questionamento que fiz ao companheiro Plínio de Arruda Sampaio, com todo respeito à sua história e admirável disposição para lutar por suas convicções. Refiro-me à resposta de Plínio, em entrevista à Carta Capital, quando perguntado “se acha que o governo de Lula foi melhor que o de FHC, ou pior?. Plínio disse “Ah, de longe, muito melhor. É que o talento de Lula é maior que o de Fernando, Lula é um homem talentosíssimo. Ele é de certo modo, pegue a palavra com muito cuidado, ele é de certo modo um impostor, mas o impostor que acredita na própria impostura. Não é um demagogo, quando Lula chora, chora mesmo. Não é Jânio Quadros, que chorava lágrimas de crocodilo. Ele não, aquela explosão de choro quando o Brasil foi escolhido para a Copa... imaginem se o Fernando Henrique seria capaz de chorar. Aquilo tem um efeito popular enorme, porque é autentico, porque é verdadeiro. E o Lula é um homem mais humano, sofreu mais, conhece mais.”
Qual a necessidade desses elogios ao “Lula, o filho Brasil”? Seria tão difícil igualar a corrupção nos dois governos, os privilégios dos banqueiros, as alianças com as oligarquias tipo Sarney, Renan e Collor comuns a Lula e FHC? E o caráter de classe comum a ambos? Lamento que o companheiro Plínio não tenha respondido a esta provocação que lhe fiz. Mas, apesar das lacunas o debate foi, ao mesmo tempo, muito esclarecedor e estimulante para os próximos que virão.
Agradeço a todas as manifestações de apoio especialmente as palavras da companheira Heloisa Helena apresentando a candidatura que represento. São um estímulo indispensável para que possa cumprir essa enorme tarefa com humildade e muito orgulho.
Martiniano Cavalcante.
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