sábado, 1 de maio de 2010

Imigrantes em luta

O camarada e amigo Israel Dutra enviou uma notícia que vale a pena divulgar: a ação de massas dos imigrantes nos EUA. Com as leis anti-imigrantes votada no estado de Arizona, a situação dos EUA tende a se polarizar. O aumento da população de imigrantes ou de seus descendentes combinada com a existência de uma parcela da população reacionária e racista mostra que os EUA vão concentrar cada vez mais contradições. Reproduzo o texto da Folha.

01/05/2010 - 17h21
Milhares protestam contra lei de imigração do Arizona nos EUA
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Colaboração para Folha

Apesar da assinatura na sexta-feira (30) de uma emenda à polêmica nova lei de imigração do Estado do Arizona, amenizando aspectos com potencial discriminatório, milhares de imigrantes saíram em marchas de protesto pedindo reformas federais sobre as leis de imigração americanas em diversas cidades dos EUA, aos gritos de "Todos Somos Arizona".

Lei que criminaliza imigrantes no Arizona é questionada na Justiça
Arizona enfrenta boicote por causa de lei de imigração
México emite alerta e pede prudência a seus cidadãos no Arizona
Presidente da Guatemala e líder da OEA criticam lei de imigração do Arizona

De acordo com ativistas pró-imigração, a lei colocado em vigor pela governadora do Arizona, Jen Brewer, acordou um "gigante adormecido".

Em Nova York, um dos coordenadores dos trabalhadores envolvidos no protesto, John Delgado, disse que mais de 5.000 pessoas foram à Praça Foley, em Manhattan para protestar a favor dos imigrantes no país.

Jason Redmond/AP

Milhares protestaram contra a lei de imigração do Arizona neste sábado em Los Angeles, nos Estados Unidos

Na cidade de Los Angeles, que além dos protestos havia planejado um show com estrelas latinas, a cantora Gloria Estefan deu início a uma grande marcha a favor da reforma federal sobre as leis de imigração.

Estefan falou em inglês e espanhol em cima de um trio elétrico, e proclamou que os Estados Unidos são uma "nação de imigrantes". A cantora disse que os imigrantes são bons, trabalham duro e não devem ser tratados como criminosos.

O cardeal Roger Mahony, que vem criticando as novas leis contra imigração do Arizona, também estava sobre o trio elétrico, gritando em espanhol, "Si, se puede", fazendo alusão ao slogan de campanha do presidente americano, Barack Obama, "Sim, nós podemos", ou "Yes, we can", em inglês.

Os organizadores dos protestos acreditam que a polêmica lei possa atrair dezenas de milhares de pessoas às ruas de cerca de 70 cidades de costa a costa dos Estados Unidos.

Ainda na sexta-feira (30) diversos membros da comunidade latina nos EUA chamaram a população para os protestos. "É importante que nos unamos e participemos de uma marcha pacífica para que sejam respeitados os direitos e a dignidade de nossa comunidade", afirmou Eddie "Piolín" Sotelo, o locutor de maior audiência em língua espanhola dos EUA.

Mario Anzuoni/Reuters

Manifestantes preparam cartazes para as marchas de protesto
Líderes de grupos de imigrantes no país, em sua maioria latinos, convocaram a passeata de 1º de maio em Los Angeles para pedir uma reforma das leis de imigração e defender um boicote contra o estado do Arizona pela nova lei contra estrangeiros sem documentos.

"O lema tem que ser 'Todos Somos Arizona'", disse Nativo López, presidente da Associação Política Mexicano-Americano (Mapa, na sigla em inglês).

"As organizações e o povo do Arizona, não apenas os mexicanos e latinos, mas também os índios americanos, os afro americanos e as pessoas trabalhadoras em geral, são as verdadeiras vítimas que estão na linha de frente desta lei retrógrada e racista promulgada pela governadora Jan Brewer", declarou Lopez.

Protestos

A lei promulgada na semana passada pela governadora republicana do Arizona Jan Brewer provocou uma onda de indignação entre a comunidade hispânica nos Estados Unidos, a principal minoria no país com 44 milhões de habitantes, e também em países da América Latina.

Na quinta-feira (29), três grupos de defesa dos direitos civis nos Estados Unidos anunciaram que apresentarão uma ação federal contra a lei que criminaliza os imigrantes sem documentos, permite à polícia interrogar sobre o estatuto migratório e pune qualquer pessoa que contrate ou que transporte as pessoas "sem documentos".

Uma pesquisa da empresa Angus Reid publicada na quinta-feira (29) revelou que 76% dos americanos apóiam que seja convertido em crime o transporte de pessoas sem documentos, e uma esmagadora maioria respalda regulamentações similares à promulgada no Arizona.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

A liderança indígena

Hoje à noite estava conversando com a Inêz, minha companheira, sobre a história indígena. Ela havia participado de um seminário sobre políticas de assistência social para os povos indígenas promovido pela Fasc. A conversa tratou dos índios que são obrigados a fazer artesanato para sobreviver e do desrespeito absurdo com a cultura indígena. Tem gente que denúncia os pais dos pequenos índios que ficam junto com a família quando estão vendendo ou cantando para conseguir algum recurso. Ignoram ou desrespeitam que os índios não podem nunca abandonar seus filhos, permitir que fiquem longe dos pais enquanto estes trabalham. Não se dão conta que o problema é que os índios seguem sendo desrespeitados e massacrados, como agora fica claro o projeto de Belo Monte. Inêz, aliás, é herdeira de Sepé Tiaraju, com a família vinda de São Borja. Da conversa comentei a resposta do cacique de Seattle à proposta de compra de terra feita pelo presidente dos EUA nos idos de 1850. Voltamos para a casa e peguei na internet o discurso, assim como seu contexto histórico.

Reproduzo abaixo o que está ali dito.

Pronunciamento do Cacique Seattle

Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los?
Cacique Seattle

Em 1854, o presidente dos Estados Unidos propôs comprar uma grande área de terra dos índios peles-vermelhas, prometendo uma reserva para que nela eles pudessem viver. A resposta do Cacique Seattle é tida como uma profunda declaração de amor ao Meio Ambiente, brotada do coração puro e simples de um índio cheio de reconhecimento à Natureza por tudo de bom que ela dá ao homem. Eis a resposta:

A "CARTA" DO CACIQUE SEATTLE

Introdução: o cenário histórico

A equipe de Floresta Brasil fez uma pesquisa sobre a história da carta que o cacique Seattle teria mandado ao presidente norte-americano Franklin Pierce, em 1854, em resposta à proposta deste último de comprar terras que até então tinham “pertencido” à sua tribo.

Antes de continuarmos, parece oportuno observar que a palavra “chief”, da língua inglesa, tem como correspondente na língua portuguesa a palavra “cacique”. Assim, se estivermos falando português, parece mais adequado nos referirmos à personalidade que teria escrito a carta como “cacique Seattle”, e não "chefe Seattle".

Outro aspecto que resultou de nosso estudo é que descobrimos, para nossa surpresa, que é possível encontrar várias versões dessa "carta". O que imediatamente traz a dúvida: Qual das versões seria a “carta” verdadeira? Pois bem, continuando a pesquisa, descobrimos que muito provavelmente o cacique Seattle jamais escreveu carta alguma com o conteúdo que lhe é atribuído, ao presidente Franklin Pierce.

O que terá acontecido então?

Pois bem: segundo as fontes que pesquisamos, os índios Duwamish habitavam a região onde atualmente se encontra o estado de Washington - no extremo Noroeste dos Estados Unidos, fazendo divisa com o Canadá. E a famosa "carta" parece ter sido, na verdade, um texto publicado em um jornal local baseado na inspirada reflexão que o cacique Seattle fez para sua tribo, reunida naquele deslumbrante cenário natural, sobre as relações do homem com a Natureza, em resposta à proposta presidencial, de compra de terra, trazida pessoalmente pelo recém-chegado encarregado de assuntos indígenas do governo norte-americano.

O primeiro registro conhecido sobre a fala do cacique Seattle parece ser um artigo publicado pelo Dr. Henry Smith, no Jornal Seattle Sunday Star, em 1887. O Dr. Smith teria estado presente quando do pronunciamento do Grande Cacique, tendo o texto do artigo se baseado nas anotações que seu autor teria feito na ocasião do discurso.
Para uma melhor compreensão do discurso em si um discurso cujo conteúdo e cujas palavras ainda hoje, passado mais de um século, soam tão sábias e profundas - resolvemos oferecer aos interessados no assunto 2 (dois) textos:

- o primeiro texto traz a impressionante descrição que o Dr. Smith fez sobre o local onde o fato ocorreu, sobre a atitude dos ouvintes - de profundo silencio e atenção e, mais impressionante ainda, sobre a forte, solene e carismática personalidade do orador e, finalmente, sobre a forma com que a fala foi proferida. De fato, o cenário descrito faz com que nos perguntemos se aquele não foi um daqueles raros e mágicos momentos da história da humanidade em que um coração forte, sensível e inspirado, consegue verbalizar palavras que chegam fundo no coração de outros homens. Mesmo que estes outros homens, como nós, tomem conhecimento daquelas palavras muitos e muitos anos depois... Confirmando o que disse Seattle: “Minhas palavras são como as estrelas, que não empalidecem”

- o segundo texto é o pronunciamento do cacique propriamente dito. A versão que apresentamos é a tradução de uma das mais famosas versões divulgadas durante a década de 70. A foto do Grande Cacique Seattle (1787-1866) é de autoria de E.M.Sammis: seu original encontra-se na “Special Collection” da Universidade de Washington, sob o nº NA 1511.

Ambos os textos, do artigo do Dr. Henry A. Smith e do pronunciamento em si, foram obtidos, em inglês, no site: http://www.geocities.com/RainForest/Andes/8032/page16/html.

O texto do artigo do Dr. Henry Smith, que se encontra logo abaixo, foi traduzido pela equipe de Floresta Brasil diretamente do artigo original, publicado em inglês em 1887, que se encontra na seção em língua inglesa de nossa página (http://www.florestabrasil.org.br).

"O velho cacique Seattle era o maior índio que eu jamais havia visto. E o que tinha aparência mais nobre. Em seus mocassins, ele media mais de 1,80m, ombros largos, tórax amplo e traços finos. Seus olhos eram grandes, inteligentes, expressemos e amigáveis quando em repouso, e espelhavam fielmente os variados estados de espírito da grande alma que olhava através deles. Normalmente ele era solene, calado e digno, porém nas grandes ocasiões movia-se na multidão como um Titã entre Liliputianos, e o que dissesse era lei.

Quando se levantava para falar, em reuniões, ou para oferecer conselho, todos os olhos se voltavam para ele, e então frases profundas, sonoras e eloqüentes fluíam de seus lábios assim como trovões de cataratas fluindo continuamente de fontes inexauríveis. Suas diretrizes soavam tão nobres como teriam soado aquelas do mais cultivado chefe militar que estivesse no comando das forças de todo o continente. Nem sua eloqüência, nem sua dignidade ou sua graça haviam sido adquiridas. Elas eram tão próprias da sua personalidade quanto às folhas e as flores o são em um pessegueiro em flor.

Sua influência era maravilhosa. Ele poderia ter sido um imperador, mas todos os seus instintos eram democráticos, e ele comandava os seus leais cidadãos com suavidade e com paternal benignidade.

Ele sempre era alvo de especial atenção pelo homem branco, principalmente quando sentado à sua mesa. Era nessas ocasiões que ele demonstrava, mais do que em qualquer outro lugar, o cavalheirismo que lhe era genuíno.

Assim que o Governador Stevens chegou em Seattle e disse aos nativos que tinha sido indicado com comissário para assuntos indígenas para o território de Washington, estes lhe prepararam recepção frente dos escritórios do Dr. Maynard's, na margem próxima da Rua Principal - Main Street. A baía enxameava de canoas enquanto a margem esta tomada por uma morena e movimentada massa humana. Quando o timbre de trombeta da voz do velho cacique espalhou-se sobre a imensa multidão como o rufar de um tambor, formou-se um silêncio tão instantâneo e perfeito como aquele que segue o crack do trovão em um céu limpo.

Sendo então apresentado à multidão nativa pelo Dr. Maynard, em um tom conversacional, direto e objetivo, o Governador deu imediatamente início a uma explanação sobre sua missão, que é conhecida demais para que requeira recapitulação.
Quando ele se sentou, o cacique Seattle levantou-se com a dignidade de um senador que carrega em seus ombros a responsabilidade sobre uma grande nação.
Colocando uma mão sobre a cabeça do Governador, e lentamente apontando para o céu com o dedo indicador da outra, em tom solene e impressionante, começou seu memorável pronunciamento.

Fonte: "Trechos de um diário: O Cacique Seattle: Um cavalheiro por instinto". 10º artigo da série “Primeiras Reminiscências” - Seattle Sunday Star, 29 de outubro de 1887 do articulista Henry Smith (tradução livre, pela equipe de Floresta Brasil)
O pronunciamento do cacique Seattle(discurso pronunciado após a fala do encarregado de negócios indígenas do governo norte-americano haver dado a entender que desejava adquirir as terras de sua tribo Duwamish).

O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.

Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.

Minhas palavras são como as estrelas que nunca empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.

O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família.

Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.

Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de conquistá-la, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.

Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.

Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.

O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum - os animais, as árvores, o homem. O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido. Mas se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro. E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.

Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.

Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão que (nós - os índios) matamos apenas para o sustento de nossa vida.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Porque tudo quanto acontece aos animais, logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si.

Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados; para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.

De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará.

Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias - eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmos uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrarão, para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ser isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Vamos ver, de uma coisa sabemos que o homem branco venha, talvez, um dia descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que o podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra; mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual sua piedade para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida por ele, e causar dano à terra é cumular de desprezo o seu criador. Os brancos também vão acabar; talvez mais cedo do que todas as outras raças. Continuas poluindo a tua cama e hás de morrer uma noite, sufocado em teus próprios desejos.

Porém, ao perecerem, vocês brilharão com fulgor, abrasados, pela força de Deus que os trouxe a este país e, por algum desígnio especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será, quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas de odor de muita gente e a vista das velhas colinas empanada por fios que falam. Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado. Onde estará a águia? Irá acabar. Restará dar adeus à andorinha e à caça; será o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.

Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos, e por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá, talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós a amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Proteja-a como nós a protegíamos. Nunca se esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse: E com toda a tua força o teu poder e todo o teu coração - conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos. De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus, esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Collor governador com o apoio do PT e do PC do B

É isso mesmo. Até agora o candidato da frente apoiado por Dilma e Lula era Ronaldo Lessa, do PDT. Collor, senador pelo PTB de Alagoas, está nesta aliança e apoia Lessa. Como se sabe, Collor é hoje da base de apoio do presidente Lula. Quem não se lembra que Renan Calheiros, líder do corrupto governo Collor de 1990-92, foi defendido com unhas e dentes pelo PT e por Lula quando foi acusado por irrefutáveis denúncias de corrupção? Mas voltemos ao que impressiona e para a novidade do dia: Collor quer ser candidato a governador de Alagoas pela aliança PTB/PDT, PP, PT e PC do B. Mário Agra, presidente do PSOL de Alagoas me deu esta notícia hoje à tarde. Brinquei com meu amigo que deste jeito ele terá os votos de todos os progressistas, democratas e socialistas do Estado. Afinal Collor já é demais. Mas,terá o apoio do PT e de Lula. A notícia abaixo confirma o que Mário Agra me adiantou por telefone. Não sei se no final Collor realmente vai insistir na empreitada porque talvez Lula, Dilma ou seus assessores tratem de atuar para evitar este fato que desmascara a política oportunista e reacionária que o PT desenvolve ao bancar alianças com as oligarquias corruptas. Neste caso com a dupla Collor/Renan. Segue abaixo a reportagem.

Direto de Alagoas

O senador Fernando Collor (PTB-AL) quer ser outra vez governador em Alagoas. Os aliados do ex-presidente vão na próxima terça-feira (4) a Brasília se encontrar com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi- também presidente nacional do PDT -, para tentar convencê-lo a fazer com que o pedetista Ronaldo Lessa desista de disputar a eleição para o governo do Estado. Lessa é o atual pré-candidato apoiado pelo presidente Lula.

Pelas pesquisas de intenção de votos, Lessa aparece na primeira colocação entre a preferência do eleitorado. O atual governador, Teotônio Vilela Filho, é candidato à reeleição no Estado. Nessa pretensão de concorrer em Alagoas, Collor tem o apoio do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros.

A reunião em Brasília na terça-feira entre Lupi e Collor foi confirmada pelo deputado federal Augusto Farias (PTB-AL), da Executiva Estadual da legenda, e pelo próprio Lessa. Ambos afirmaram que Collor pretende ser candidato.

Lessa disse conhecer a estratégia de Collor, mas avisou: não desiste da disputa. "Pode vir o João, o Manoel, o Fernando, o Benedito. Sou candidato ao Governo, com o apoio do presidente Lula e da ministra Dilma", afirmou. Hoje, Collor integra a mesma base política de Lessa.

A se confirmar a pré-candidatura do ex-presidente, Dilma corre o risco de, sem a desistência de Lessa, ter um palanque duplo no Estado, além de ser obrigada a apaziguar um racha na base de sustentação da candidatura da petista ao cargo máximo do Executivo nacional. Uma eventual desistência de Lessa e o consequente lançamento de seu nome para uma vaga no Legislativo federal deverá passar pelo crivo do ministro Lupi.

Políticos ligados a Collor têm esperanças de que ele venha a conseguir um sinal verde do Palácio do Planalto. O PT de Alagoas, porém, é radicalmente contra esse desejo: não quer Collor no palanque de Dilma. "O palanque de Dilma Rousseff em Alagoas, com o apoio do presidente Lula, é o de Ronaldo Lessa", disse o presidente estadual do PT, Joaquim Brito. "Tivemos um congresso em abril e foi unânime: não apoiaremos Collor sob nenhuma hipótese a nada", acrescentou o petista. Se a proposta for levada adiante, o pedetista já admite enfrentar Collor nas urnas.

Em janeiro, uma reunião entre o presidente Lula e o ex-governador retirou Lessa da disputa ao Senado, deixando o caminho livre para a reeleição do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do partido no Senado. "O que o Fernando deseja é que o Lupi nos ajude a fazer uma possível retirada do Ronaldo da disputa ao Governo. Temos pesquisas internas que mostram uma demanda eleitoral maior em favor do Collor", explicou Augusto Farias. Augusto não divulgou números nem o instituto que realizou as tais pesquisas.

A decisão de Collor de buscar a candidatura é justificada pela movimentação dos tucanos no Estado. Nesta quinta-feira (29), o PP, que integrava o "chapão" alagoano - com Collor, Renan e Lessa -, decidiu se aliar à reeleição do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB). O presidente estadual do PP, o deputado federal Benedito de Lira, disse apoiar Vilela, embora pretenda votar em Dilma. "Meu compromisso é com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma. Em Alagoas, com Teotônio Vilela Filho", disse Lira.

Além disso, depois do impeachment em 1992, Collor e Lessa disputaram duas eleições, sempre em lados rivais: em 2002, Lessa tentava a reeleição e Collor a vaga ao Governo. A vitória foi de Lessa. Em 2006, os dois voltaram a se enfrentar: Collor lançou-se a disputa ao Senado 28 dias antes da eleição e ganhou de Lessa.

Hoje, os dois estavam do mesmo lado. "Há dificuldades, tínhamos divergências e diferenças na política. O que une os projetos com Renan e Collor é a unificação das oposições contra o atual governo do Estado, que é reprovado pela população", explicou Lessa. "Não me surpreende ele querer ser candidato ao governo. Mas, não desisto da disputa", avisou Lessa.


(Colaborou a repórter Laryssa Borges, de Brasília)

PSOL RS na TV

PSOL RS na TV

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Para conhecer um país

Na sua autobiografia Nelson Mandela diz: "Dizem que ninguém conhece de fato um país se não esteve dentro de suas prisões. Um país não deve ser julgado pelo seu modo de tratar seus cidadãos mais superiores e sim pelo jeito de tratar os mais inferiores; e os sul-africanos tratavam seus cidadãos inferiores como animais" (página 168, editora Siciliano).
Minha experiência nas prisões é pequena. A primeira vez que visitei uma foi quando tinha 13 anos. Fui entrevistar o jornalista Flávio Alcaráz Gomes que estava preso no Central de Porto Alegre condenado por assassinato. Me lembro de atravessar os corredores longos do Central e chegar numa cela especial, pequena, com um televisor, uma cama, um escritório. Hoje este presídio, creio, é o campeão nacional em superlotação: são mais de 4000 presos quando a capacidade máxima seria para algo em torno de 1500.
Três anos depois, quando estava com 16 anos,eu mesmo conheci uma prisão de menores quando a polícia me jogou numa cela imunda depois de reprimir um protesto estudandil que eu ajudava a coordenar. 25 anos depois visitei junto com Luciana Genro e Pedro Ruas o presidio de menores - este é o conteúdo real - da Fase na frente do Beira Rio. Uma situação absurda, um descaso com crianças e jovens, jogados sem assistência, na sujeira, sofrendo maus tratos em celas pequenas com 4, 5 jovens cada, dormindo apertados em colchões - quando os têm - sujos e rasgados. Mandela, lenda ainda viva, pode ter certeza que no Brasil os presos são tratados sim como animais. Atualmente o país tem mais de 500 mil, a quarta população carcerária do mundo em crescimento de 10% ao ano.
Quem quiser conhecer mais a luta em defesa dos direitos civis e contra esta barbárie que representa o sistema carcerário brasileiro pode entrar em contato com o deputado Marcelo Freixo do PSOL do Rio de Janeiro, principal liderança partidária nesta questão e uma dos principais defensores dos direitos humanos do país.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Estudantes protestam contra preço do ônibus na Capital



Estudantes da zona norte de Porto Alegre lotaram a sala de comissões da Câmara Municipal nesta terça-feira, 27, para participar do debate sobre o preço das passagens de ônibus. A audiência pública foi pedida pelo vereador Pedro Ruas, líder da oposição na Casa, e teve a participação das comissões de Economia, Finanças, Orçamento, Mercosul e de Urbanização, Transportes e Habitação.

A vereadora Fernanda Melchionna participou da audiência, questionando a metodologia do cálculo das passagens apresentada pelo técnico da EPTC – Empresa Pública de Transporte e Circulação Rodrigo Sausserig. Os estudantes levantavam as mãos a cada vez que se falava no preço das passagens, simulando uma situação de vítimas de assalto, além de carregarem cartazes com mensagens criativas, criticando o alto preço dos transportes em Porto Alegre.

Fernanda é autora de um projeto vetado pelo então prefeito José Fogaça que estende a meia passagem aos estudantes para domingos e feriados. Ela explicou que as atividades de formação do estudante não se dão somente nas salas de aula, mas também em atividades extra-curriculares, como cultura e pesquisa.

A reunião infelizmente acabou antes do prazo previsto, pois vereadores da base do governo não respeitaram as manifestações, criando uma confusão devido ao conteúdo crítico dos cartazes portados pelo movimento. Fernanda cobrou dos demais vereadores mais respeito à liberdade de expressão dos estudantes.


Fonte: fernandapsol.com.br

segunda-feira, 26 de abril de 2010

PSOL coleta 1,5 mil assinaturas pela CPI da Saúde


Neste domingo, 25, a deputada federal Luciana Genro e o vereador de Porto Alegre Pedro Ruas, líder da oposição na Câmara Municipal, estiveram no Brique da Redenção coletando assinaturas da população pela instalação da CPI da Saúde na capital gaúcha. O chamado do abaixo-assinado é "Se os vereadores não assinam, assinamos nós!". Falta apenas uma assinatura da vereança para que a CPI seja instaurada.

Já foram coletadas mais de 1,5 mil assinaturas de populares a favor da CPI. Ruas entende que, embora difícil, "não é impossível obter a última assinatura de vereador necessária".

Participe! Clique no abaixo-assinado para imprimi-lo. As folhas assinadas podem ser entregues na sede do PSOL em Porto Alegre: Rua da República, 108 – Cidade Baixa.


Fonte: www.lucianagenro.com.br

domingo, 25 de abril de 2010

Texto de Nouriel Roubini

La trampa mortal de la deuda pública

Por Nouriel Roubini (*)
Crisis Económica.blogspot, 16/04/10
Traducido por Carlos Manzano

Nueva York.– El culebrón financiero griego es la punta de un iceberg de problemas de sostenibilidad de la deuda pública para muchas economías avanzadas y no sólo los llamados PIIGS (Portugal, Italia, Irlanda, Grecia y España). De hecho, la OCDE calcula ahora que los coeficientes deuda–PIB de las economías avanzadas aumentarán a una media del 100 por ciento, aproximadamente, del PIB. El Fondo Monetario Internacional ha hecho públicos recientemente cálculos similares.

Dentro de los PIIGS, los problemas no son sólo unos déficits públicos y porcentajes de deuda excesivos (en diferentes grados y medidas en los cinco países), sino también de déficits exteriores, pérdida de competitividad y, por tanto, crecimiento anémico.

Se trata de unas economías que, incluso hace un decenio, estaban perdiendo mercado a manos de China y Asia por sus exportaciones de poco valor añadido y mucha intensidad de mano de obra. Después de un decenio en el que los salarios aumentaron más rápidamente que la productividad, los costos laborales por unidad (y el tipo de cambio real basado en dichos costos) se apreciaron en gran medida. La consiguiente pérdida de competitividad se manifestó en grandes –y cada vez mayores– déficits por cuenta corriente y en una aminoración del crecimiento. La puntilla fue la apreciación del euro entre 2002 y 2008.

De modo que, aun cuando Grecia y otros PIIGS tuvieran la determinación política de reducir en masa sus grandes déficits fiscales, lo que es mucho decir, dada la resistencia política a las reducciones de gasto y los aumentos de impuestos, la contracción fiscal puede empeorar, al menos a corto plazo, la recesión actual, al disminuir la demanda agregada con el aumento de los impuestos y la reducción del gasto. Si baja el PIB, resulta imposible alcanzar determinada meta en materia de déficit y deuda (como porcentaje del PIB). Ésa fue, en efecto, la trampa mortal en la que se hundió la Argentina entre 1998 y 2001.

Para restablecer el crecimiento, hace falta una depreciación real de la moneda. Sólo hay tres formas como puede producirse. Una es la deflación que reduce los precios y los salarios entre el 20 y el 30 por ciento, pero la deflación está relacionada con la recesión persistente (véase de nuevo el caso de la Argentina) y la sociedad y el sistema político de un país no pueden aceptar años de recesión y austeridad fiscal para lograr una depreciación real. Mucho antes habría una suspensión de pagos y la salida del euro.

La segunda vía es la de seguir el modelo alemán, consistente en acelerar las reformas estructurales y la reestructuración de las empresas para aumentar la productividad, al tiempo que se mantiene un aumento moderado de los salarios, pero Alemania tardó un decenio en reducir sus costos laborales por unidad de ese modo; si Grecia o España comenzaran hoy, los costos a corto plazo de la reasignación de recursos serían grandes, mientras que harían falta demasiados años para lograr los beneficios en materia de aumento del crecimiento.

Por último, el euro podría perder valor en gran medida, pero el beneficiario principal sería Alemania y, para que el euro bajara lo suficiente, el riesgo de suspensión de pagos de Grecia tendría que ser tanto y el contagio a los márgenes de la deuda soberana de los PIIGS tan grave, que, antes de que la depreciación de la divisa pudiera rendir beneficios, el aumento de dichos márgenes causaría una recesión de doble caída en la zona del. euro.

De no ser por un milagro, Grecia parece próxima a la insolvencia. Al comienzo de su crisis, el déficit presupuestario de la Argentina, su deuda pública y su déficit por cuenta corriente (como porcentajes del PIB) eran 3 por ciento, 50 por ciento y 2 por ciento, respectivamente. Esos coeficientes en el caso de Grecia son mucho peores: 12,9 por ciento, 120 por ciento y 10 por ciento. Así, pues, hará falta un esfuerzo hercúleo, suerte y apoyo de la Unión Europea y del FMI para reducir la probabilidad de una posible quiebra y la salida de la zona del euro.

Actualmente, Grecia está demasiado interconectada como para que se permita su desplome: como tiene unos 400.000 millones de dólares de deuda pública, tres cuartas partes de los cuales pertenecientes a extranjeros, principalmente entidades financieras europeas, una quiebra desordenada provocaría pérdidas en masa y el riesgo de una crisis sistémica. Además, el contagio a los márgenes de la deuda soberana de los demás PIIGS sería enorme y hundiría algunas de esas economías.

Así, pues, pese a la repugnancia de Alemania y del Banco Central Europeo ante la idea de un “rescate”, Grecia necesita este año un gran apoyo financiero oficial con tasas que no sean insostenibles para impedir que su actual falta de liquidez pase inmediatamente a ser insolvencia, pero el apoyo oficial sólo será un respiro hasta el año que viene. No parece probable que se logre el trío mágico de porcentajes sostenibles de deuda y déficit, una depreciación real y restablecimiento del crecimiento, ni siquiera con apoyo financiero oficial.

Todos los rescates logrados de países con dificultades financieras –México, Corea, Tailandia, Brasil, Turquía– requieren dos condiciones: una disposición creíble del país a imponer la austeridad financiera y las reformas estructurales necesarias para restablecer la sostenibilidad y el crecimiento y cantidades ingentes de apoyo oficial concentrado en la etapa inicial para evitar una crisis de refinanciación continua –y que se alimente a sí misma– de vencimientos de deudas públicas o privadas –o ambas– a corto plazo. La reforma sin dinero sobre la mesa no funciona, pues los inversores nerviosos y demasiado impacientes preferirían retirar su dinero, si el país carece de las reservas de divisas extranjeras necesarias para prevenir el equivalente de una retirada en masa de fondos de un banco en relación con sus obligaciones a corto plazo.

Así, pues, después de un plan totalmente equivocado que habría entregado fondos a Grecia demasiado tarde –sólo cuando el país corriera el riesgo de una crisis de refinanciación– y con los tipos del mercado, que habrían vuelto insostenible su deuda, la UE recuperó la cordura y formuló un nuevo plan, más parecido a la condicionalidad típica del FMI: apoyo por tramos con una ayuda temprana y concentrada en la primera etapa y un tipo de interés semifavorable.

Sólo el tiempo dirá si ese plan funcionará, es decir, si Grecia resultará carente de liquidez, pero no insolvente, con la condición de que aplique una austeridad fiscal y unas reformas estructurales creíbles y con la ayuda de grandes cantidades de apoyo financiero, pero, como en el caso de la Argentina, Rusia y el Ecuador, si el ajuste no consigue restablecer la sostenibilidad de la deuda y del crecimiento, Grecia puede ser también insolvente. De momento, la comunidad oficial ha decidido atenerse al plan A; si éste falla, el plan B será la suspensión de pagos para reducir las deudas insostenibles y una salida de Grecia de la zona del euro para permitir la depreciación y el restablecimiento de la competitividad y del crecimiento.


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(*) Nouriel Roubini es profesor de Economía en la Escuela Stern de Administración de Empresas de la Universidad de Nueva York y Presidente de RGE Monitor.