Passado a meia noite, começando a quinta-feira no horário de Brasília, “os violentos protestos liderados pela oposição e que derrubaram nesta quarta-feira o presidente do Quirguistão, Kurmanbek Bakiev, provocaram 65 mortes” eram noticiados pelo AFP no UOL.
"Os confrontos deixaram 65 mortos e 495 feridos, incluindo 393 que precisaram de assistência médica", revelou um funcionário da Saúde.
Kurmanbek Bakiyev fugiu da capital do Quirguistão em um pequeno avião, enquanto a oposição anunciava a formação de um novo governo, depois de assumir o controle dos edifícios da Presidência e do Parlamento”, completava.
Alguns minutos antes, o último telejornal da Globo reproduzia as imagens da insurreição vitoriosa. As massas no centro da cidade tomando os tanques do exército e literalmente atropelando com paus e pedras as tropas que ainda resistiam. Ocuparam não apenas o Parlamento, a sede do governo, mas também a principal televisão. Claramente tomaram o poder, nas cenas clássicas de uma revolução em seu ponto mais alto, quando a insurreição toma as ruas. E ainda temos os que dizem que o assalto ao poder é movimento político que ficou apenas no passado, no exemplo do Palácio de Inverno. Pois os Palácios seguem sendo tomados.
“O presidente está refugiado na cidade de Osh, no sul do país, e o governo foi assumido pela ex-chanceler e líder da oposição Roza Otunbayeva” se lê ainda no UOL.. Foi esta ex-ministra de Relações Exteriores e líder opositora do Quirguistão Roza Otunbayeva que esteve entre as lideranças da chamada revolução de veludo, em 2005.
A vitória da revolução é uma derrota não apenas deste governo corrupto e privatista, mas também da política dos EUA e do seu novo governo Obama. Afinal, a estabilidade do Quirguistão e seu sinal verde para as tropas norte-americanas são fundamentais para a intervenção imperialista na Ásia. Sua população quase 100% alfabetizada de pouco mais de 5 milhões de habitantes vive num território de 199.900 Km2 encravado na Ásia Central, sem saída para o mar e cercado por quatro países: Uzbequistão a oeste, Cazaquistão ao norte, Tajiquistão a sudoeste (logo em seguida vem o Afeganistão) e China a leste e sudeste.
Com seu PIB atual de aproximadamente 11 bilhões de dólares, o Quirquistão conquistou a independência da ex-URSS em 1991 e tudo indica que os EUA terão dificuldades de torná-lo uma colônia ou semi-colônia de seu aparato bélico. Tudo indica, aliás, que o atoleiro do Afeganistão será maior.
Com o cultivo da papoula que garante 90% da heroína que corre pelo mundo, o Afeganistão é um país pobre com 86% da população analfabeta. A capital Cabul é abarrotada de gente. O país está durante anos arrastado por incalculáveis sofrimentos. Desde que a intervenção militar dos EUA derrubou o governo reacionário e criminoso dos Talebans, como era previsível, longe de contribuir na democratização do país, os EUA o transformou em território ocupado militarmente. Obama renovou a aposta militar e aumentou o envio de tropas. O empenho assumido é que o exército nacional afegão (ANA) passe dos atuais 100 mil efetivos para 171.600 até outubro do próximo ano. Também são cerca de 100 mil os policiais afegãos. A previsão é de que cheguem a 134 mil em outubro de 2011, conforme outro programa paralelo de formação que busca dar a Cabul forças de segurança (soldados e polícia) de 305.600 homens. As dificuldades, além do analfabetismo, são as deserções freqüentes.
A conclusão que vai se impondo é evidente: a situação mundial tem demonstrado que os EUA estão longe de ter a estabilidade necessária para reproduzir as condições de dominação de seu império.
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