segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Fórum Social Mundial: reflexões depois da marcha de abertura

O Fórum sempre é um ponto de encontro para aqueles que defendem um outro mundo. Mas, e neste caso o mas tem força, esta décima edição nao pode ser encarada como uma continuidade das primeiras. Menos impacto na cidade e no Rio Grande, menos conexão com as lutas pelo mundo afora e, sobretudo, menos entusiasmo. O primeiro fórum foi aqui, a inauguração de uma vanguarda multudinária que atuava na esteira das mobilizações de Seatle. Estávamos em 2001.
O neoliberalismo ainda tinha hegêmonia mundial mas sua contestação encontrou um Porto Alegre um ponto de encontro com uma radicalidade e diversidade que enchiam de esperanças as forças socialistas e internacionalistas. Foram 20 mil pessoas protestando. Neste ano, em dezembro, centenas de milhares derrotaram nas ruas de Buenos Aires o governo neoliberal de De La Rua. Eram novos tempos. A ofensiva do neoliberalismo esta dando lugar na América Latina para uma situaçao de maior protagonismo do movimento de massas, uma situaçao de equilíbrio na luta entre as classes. Em janeiro de 2002 o fórum teve 50 mil pessoas. Em 2003, novamente em Porto Alegre, foram 100 mil.
No fórum de 2003 tivemos dois pontos altos. A manifestaçao de Lula reuniu dezenas de milhares, emocionou e prometeu mudanças logo depois de uma vitória histórica contra Fernando Henrique. Para muitos estava iniciando o novo mundo. Mas Lula saiu de Porto Alegre e foi para Davos. O neoliberalismo no Brasil agora estava tendo uma continuidade com mudanças, ou mudanças para que tudo continuasse como sempre: o Brasil agora teria um governo social liberal. Esta era a nossa posiçao. No mesmo fórum, eu estava com Luciana Genro e nossa corrente, o MES, organizando a vinda de Hugo Chavez para Porto Alegre. Os organizadores oficiais do Fórum nao queriam Chavez. Era uma presença de enfrentamento claro contra o império. É incrível que Chavez tenha tido a coragem de bancar sua vinda num ato organizado por um grupo de esquerda em claro enfrentamento com a posição majoritária para a qual o novo governo brasileiro estava rumando. Chavez veio num ato organizado por nós que superlotou o auditório da Assembléia. Foi um impacto.
Bem, náo vou seguir. É da história que em 2005 tivemos novamente o forum em POA, desta vez com as bandeiras do PSOL. Novamente Chavez vez a diferença e o gigantinho lotado foi incrível. Agora, bem, agora o Fórum está menos animado. O aparato petista e cutista, além da Força Sindical, tem muito carro de som e pouca gente e ainda menos entusiamo. A descentralização e a realizaçao de dois fóruns quase simultaneos no Brasil divide uma vanguarda de esquerda que ainda é pequena depois da brutal traição do governo Lula. De qualquer forma o caminho aberto em 2001 ainda segue aberto. As mobilizações de Copenhague mostram isso. A resistência social na América Latina também. No Brasil, embora o aparato oficial tente transformar o espírito de mudança no conservadorismo da reprodução do status quo, há avanços da consciência social crítica que estão longe de terem sido perdidos. Esta, aliás, é a base e as possibilidades do PSOL. Até.

2 comentários:

  1. É verdade Roberto.
    Porém de alguma forma ainda há resquícios de anticapitalismo no FSM, uma queda de braços que segue em curso.
    Hoje pela manhã na mesa em que estava David Harvey deu pra notar de forma clara. Enquanto Harvey tratava de discutir a necessidade de um comunismo renovado e a superação revolucionária da "síndrome do crescimento composto de 3% ao ano", os charlatães da CUT, do PT e da ATTAC tentavam embelezar seus feitos com seus olhos voltados à eleição de Dilma, como se o governo petista tivesse qualquer conexão com Chavez ou Evo. Bradavam contra o retrocesso (que significaria a volta do PSDB ao governo) para esconder a covardia de seu continuismo, falavam em ecologia para enfeitar seu programa social liberal. Ganharam aplausos, talvez ganhem a eleição. Mas como bem disse Harvey a crise do capitalismo é muito profunda e a urgência de superá-la, também há de acelerar as conclusões dos trabalhadores rumo à revolução que precisamos.

    Bernardo

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  2. Que pena, pelo que leio, no post e no comentário o FSM transformou-se em palanque para eleições e vitrine de egos... uma grande pena mesmo! Aos poucos bravos e autênticos socialista resta continuar lutanto contra essas ervas daninhas que sufocam o mundo!

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