segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Meu diário
Os velhos diários foram substituídos pelos blogs, pelo menos é o que dizem alguns. Mas os diários não eram públicos. Ficavam numa gaveta, amarelando com o tempo e muitos eram conhecidos muito tempo depois de serem escritos. Às vezes depois do seu autor ter desaparecido. Eram textos escritos para não ser lidos. Ou pelo menos não necessariamente lidos. O blog, ao contrário, pode encontrar um leitor, qualquer um, a qualquer momento. De minha parte nunca me passou pela cabeça escrever um diário. Minha irmã escreveu um durante muitos anos. Ela é três anos mais velha do que eu. Depois de anos simplesmente colocou o diário fora. Achou que era bobagem ter diário e sumiu com ele. Fiquei espantado quando ela me contou. Ela mesmo me contou arrependida de não poder voltar ao que escreveu para si mesma, durante anos, com o único objetivo de registrar seu dia, suas reflexões, suas dúvidas, suas tristezas, suas ideias gratuitas e comentários banais. Nunca fiz isso, e eis que agora, aqui, neste momento, um pouco depois de terminar um dia de muitas articulações políticas, estou escrevendo para mim mesmo, como se o blog fosse um diário, só que agora um diário de novo tipo, que pode ser encontrado, lido,um diário, portanto, de natureza pública. Eis aí, no caráter público, a principal diferença entre o blog e o velho diário de minha irmã. E as articulações políticas, como foram? Produtivas. Mas relatá-las já seria, por hoje, escrever demais.
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