quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Polêmica entre Niall Ferguson e Martin Wolf

O Financial Times tem sido o palco - reproduzido na Folha de SP - da polêmica entre dois intelectuais orgânicos da classe dominante. Wolf critica Ferguson porque considera que o professor está fazendo o jogo dos conservadores ao prever que os EUA seguirá a Grécia em sua crise de inadimplência. Numa das criticas sustenta que os dados de Ferguson de que a dívida púbica federal norteamericana excederá o PIB em 2012 é falso. Wolf cita um professor de Berkeley que diz que a mesma será em torno de 70%. Considerando que o PIB dos EUA está em torno de US$ 15 trilhões, podemos de fato concluir que é uma montanha de dívida. E que as pressões e incertezas acerca da capacidade de pagamento se farão sentir em algum momento. Mas segundo Wolf o argumento de que a crise grega atravessará o Atlantico não passa de histeria.
No posicionamento de Wolf existe uma defesa explícita do política fiscal adotada durante a crise pelo governo Obama. Completamos, aliás, o aniversário do pacote fiscal de US$ 787 bilhões que ajudou bancos, empresas, seguradoras, etc. Foi um clássico pacote keynesiano. Seja dito que ainda tem setores da esquerda que negam o caráter keynesiano dos atuais planos, caracterizaçao oposta aos fatos.
Segundo Wolf, a posição de Ferguson visa criticar esta política fiscal sustentando uma política irreal - dos republicanos dos EUA - de alicerçar a defesa contra a crise apenas na política monetária. Os republicanos querem tirar proveito do descontentamente popular com o pacote e ganhar as eleições legislativas de novembro. Nisso tudo Wolf tem também toda a razão. Sem o pacote fiscal o regime do capital entraria numa depressão pior do que a de 1929 nos EUA. Quando os capitalistas do partido oposicionista burguês não dizem isso é porque estao simplesmente mentindo. Os socialistas que não estão interessados em defender o capital podem denunciar tal plano, nao eles. O aprendizado burguês de economia mais claro no século XX foi: seguir os conselhos de Keynes de promover a dívida pública quando a redução de juros não é suficiente. Nos EUA claramente nao era; os juros ja eram baixo antes da crise de 2007 estourar e o tamanho da crise derrubou qualquer possibilidade de investimento privado pesado sem o empurrão fiscal. O que Wolf porém tenta esconder é que a dívida federal é um fator de instabilidade. Neste sentido a crise grega não é um evento isolado. Nao existe almoço grátis keynesiano. E Ferguson nisso está mais certo do que Wolf ao comparar os EUA com a Grécia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário