segunda-feira, 1 de março de 2010

Os reais motivos do assassinato do Secretário da Saúde estão sendo abafados

O jornal Zero Hora transferiu toda a cobertura do assassinato de um conhecido político para as páginas policiais. É claro que tal fato se trata de um caso de polícia. Mas não apenas de polícia. No Rio Grande do Sul cada vez mais envolvido com escândalos de corrupção - e depois da morte misteriosa ainda não esclarecida do assessor de Yeda Crusius, vinculado com os esquemas de corrupção do governo, em fevereiro de 2009, a política e o crime tem se misturado. No caso de Eliseu Santos os fatos revelados já deixam claro que aqueles que o ameaçavam de morte são os responsáveis diretos ou indiretos de sua morte.
A cobertura jornalística do dia seguinte ao assassinato se referia às polêmicas na qual se envolvia o secretário. A edição do Jornal Nacional de sábado deu a notícia lembrando que há uma investigação em curso da Polícia Federal acerca de um rombo de 9 milhões de reais na prefeitura de Porto Alegre. Justamente na pasta comandada por Eliseu Santos até seu assassinato: na Secretária da Saúde. Trata-se das falcatruas feitas pelo Instituto Sollus, contratado sem licitação por insistência do próprio Eliseu Santos.
Depois das denúncias Eliseu rompeu o contrato. Na quinta-feira deu depoimento na Polícia Federal sobre o assunto. Na sexta-feira dia 26 foi assassinado. Sua esposa, que estava no carro na hora do assassinato, depôs dizendo que não teve nenhuma menção a assalto por parte dos assassinos. A colunista do Zero Hora Rosane de Oliveira disse imediatamente depois da morte que tudo indicava se tratar de execução. Mas apesar de tudo isso a Zero Hora está agora apostando na tese do assalto seguido de morte. O jornal faz um chamado de capa no qual afirma que a tese do assalto ganha força. O jornalista Humberto Trezzi escreve uma coluna dizendo que se fosse execução seriam brancalheones em ação.
Enquanto isso, a Câmara dos Vereadores suspendeu seus trabalhos no dia de hoje. Será um dia de luto. Pedro Ruas, vereador e advogado do partido, quando me ligou avisando da notícia expressou seu descontentamento com esta decisão da Câmara de não funcionar. Corretamente acredita que a defesa da justiça, a luta contra a corrupção e a própria punição dos assassinos e mandantes da morte do secretário requer que a Câmara trabalhe ainda mais. Mas a Câmara não trabalhar no primeiro dia útil depois do assassinato se enquadra na idéia de que o assunto não é político, mas simplesmente um caso de polícia que deve ser investigado e esclarecido pelas investigações policiais. Mas assim também os reais motivos da morte não estão sendo abordados. É incontestável que há razões vinculadas com a política, com sua gestão a frente da secretária de saúde, para a morte do secretário.
Não podemos deixar de acreditar no depoimento de sua esposa. Segundo a mesma, em nenhum momento foi anunciado qualquer assalto. Também a polícia já disse que tudo indica que Eliseu atirou primeiro, surpreendendo os assassinos. Infelizmente Trezzi não leva em conta a obviedade de que se os assassinos foram surpreendidos seus tiros contra Eliseu poderiam não ter a mesma precisão do que a de um ataque sem a surpresa, sem o susto da reação. Neste caso a execução foi atrapalhada pela vítima.
Mas vamos aceitar que os argumentos do crime comum, de assalto seguido de morte devido à reação de Eliseu Santos são mais fortes do que os da execução. Não é o que penso, mas quero comprar os argumentos de Trezzi apenas para sinalizar que um bom jornalismo deveria ir mais longe. O programa Polêmica de hoje vai na mesma linha de Trezzi e pergunta: deve se reagir no caso de assalto? Mas a pergunta certa deveria ser: por que Eliseu Santos reagiu? Por que ele estava armado? E se de fato foi quem disparou primeiro - por que chegou até mesmo a assistir armado uma missa?
Estas sao perguntas fundamentais. Todos sabem que numa situação destas, com reação da vítima, a possibilidade de um assalto comum terminar em morte é enorme. Por isso todo mundo responderá que não se deve reagir a um assalto comum. Logo, a reação de Eliseu provocou sua própria morte. Esta é a nova ideia da coluna de Rosane de Oliveira de hoje, e do "Polêmica". Mas então cabe responder a pergunta de por que Eliseu Santos estava armado. A resposta é simples: porque estava sendo ameaçado, ameaças graves, que lhe levaram a procurar o Ministério Público e a andar permanentemente armado, até no local do culto. Apesar do prefeito na noite da morte ter dito que não sabia de nada, hoje está confirmado que seu secretário recebia ameaças.
Uma pessoa ameaçada de morte não aje como uma pessoa comum. Por isso não se pode dizer de modo abstrato que Eliseu nao deveria ter reagido. Qualquer pessoa seriamente ameaçada de morte reagiria vendo dois homens armados em sua direção, com a arma apontada. Foi o que Eliseu fez. Seria o máximo de coincidência que os homens armados fossem meros assaltantes comuns. Tudo indica que Eliseu não acreditou nesta coincidência. Eu também não. Mas mesmo que seja verdadeira a tese do assalto, a reação de Eliseu não foi em função do assalto, mas do temor de que a ameaça recebida estava naquele momento sendo executada. Assim, pelo menos indiretamente os autores da ameaça devem ser responsabilizados. A pergunta de um bom jornalismo deve também incluir: por que Eliseu Santos estava sendo ameaçado? Por quem? Pode ser que respondendo a estas perguntas não se chegue aos autores do assassinato. Mas certamente se pode desmontar uma quadrilha que provavelmente não apenas assaltava os cofres públicos, mas havia tido desavenças com o secretário a ponto de ameaçá-lo. Se a tese da execução se confirmar, teríamos provavelmente encontrado os criminosos diretamente envolvidos. Caso seja conformado o raciocínio de Trezzi, igualmente teríamos os responsáveis indiretos pela morte. De toda a forma estaríamos fazendo justiça. E defendendo os cofres públicos. Por isso a CPI pedida por Pedro Ruas há cerca de um mês para investigar as fraudes do Instituto Sollus deve ser realizada, mais ainda agora depois do assassinato do secretário. Por isso o bom jornalismo não pode deixar de indagar sobre as relações "polêmicas" que estava envolvido o secretário. Por isso a Polícia, para realizar um bom trabalho, não irá se limitar a tese do assalto.

3 comentários:

  1. Tivemos problema análogo em Brasília. No mensalão do DEM, o Correio Braziliense transferiu o caso do Arruda para um caderno local, de cidades...
    Um fato totalmente nacional, conectando governo federal e a capital federal, o jornal teve a pachorra de no começo de 2010 fazer a seguinte enquete: O que o Arruda deve fazer com o fim da crise?

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  2. a corupçao n rs/rs esta 1 vergonha!!!!esta governadora e uma grade vergonha !!!! quando vai acabar tanta sugeira !!!!sou d pdt d r/rj mas sou gaucha....abçss zoraia

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  3. Descobriram a identidade do assassino muito rapido, em 1 dia apenas. A policia disse que tinha um informante. Informante nada, tinha um mandante. Jogos sujo!

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