Nos últimos dias assisti os debates dos pré-candidatos do PSOL à Presidência da república em três capitais. Estive em Fortaleza, em seguida no daqui, em Porto Alegre, e ontem foi a vez de SP, onde me encontrava participando da executiva nacional do partido. Como já tinha assistido o do RJ, tive a sorte de ter uma visão do conjunto deste percurso que irá se encerrar agora, nesta quarta, em Salvador.
Eu escrevi neste blog sobre o primeiro debate, o do RJ. Em linhas gerais todos foram parecidos. O do RJ foi, aliás, o que reuniu mais militantes, mais ou menos 500. O de Fortaleza teve uma atenta platéia de 150 pessoas, em Porto Alegre 300 e em SP outros 250.
Bem, já disse o que penso da candidatura do Babá. Creio que o companheiro se inscreveu defendendo uma idéia e logo em seguida, a partir da intervenção de sua corrente, adotou um curso totalmente equivocado que o debilitará como figura do partido. Lançou um manifesto reivindicando Heloisa Helena e Luciana Genro. Mas sua corrente colocou este texto no lixo e escreveu outro, centrado no ataque ao Movimento Esquerda Socialista (MES). O curso de sua candidatura acabou virando linha auxiliar do nome de Plínio.
Martiniano, por sua vez, se mostrou de longe o melhor orador. Manteve-se defendendo a linha expressa no seu manifesto de lançamento. Reivindicando o PSOL como carro chefe da recomposição da esquerda, a necessidade de um programa de transição, a luta contra a corrupção e a liderança de Heloísa Helena.
Agora, de todos, o mais oscilante foi mesmo o companheiro Plínio. Foi o único que adotou discursos diferentes, ou melhor dizendo, opostos, dependendo do auditório. Em Fortaleza defendeu a necessidade de um programa diretamente socialista, sustentando que a propaganda do socialismo, que a reivindicação desta bandeira deveria ser o eixo de nossa campanha. Em SP disse que o programa não poderia ser diretamente socialista, mas sim de reformas no capitalismo. Em Porto Alegre disse que deveria ser as duas coisas. Ficou a impressão de que Plínio mesmo não tem claro como formular estrategicamente a questão do programa. Não creio que estas oscilações se expliquem pelo fato de Plínio querer agradar as diferentes teses que defendem seu nome, mas que divergem entre si de modo muito duro sobre o programa. Afinal, a APS sempre defendeu o programa democrático e popular e o CSOL, por exemplo, denuncia a ideia do programa democrático e popular elaborado historicamente pelo núcleo dirigente do PT como uma traiçao ao socialismo, programa este, segundo o CSOL, levado adiante pelo PT e responsável por seu fracasso como alternativa dos trabalhadores. Plínio, com estas divergências no seu campo de apoio fica sem saber o que dizer. Por isso ora diz que o programa é diretamente socialista, ora diz que é de reformas do capitalismo, sem conseguir articular de modo correto a ponte entre a luta por reformas e a luta por revolução.
De nossa parte, aqueles que conhecem nossa elaboração sabem que não somos defensores do programa democrático e popular nem acreditamos que este programa tenha sido aplicado pelo PT e resultado na traição. Antes de seguir, quero dizer que nas teses do MES para o Congresso do PSOL do ano passado há uma parte que trabalha sobre esta questão de modo mais exaustivo. Aqui somente pincelamos o tema. Como resumo da ópera, o programa democrático e popular era estruturado ao redor de uma série de medidas reformistas corretas, de cunho econômico, social, medidas democráticas, culturais, etc. Defendendo estas medidas, o programa era coroado com a idéia de eleição de Lula para aplicá-las depois da vitória, eleição que seria realizada sem situação revolucionária nem muito menos crise revolucionária. A APS, como se vê em suas teses, segue reivindicando que foi correto este programa e adotando ainda como método, embora considere que o PT traiu este programa. Creio que nisso os companheiros da APS estão mais próximos da realidade que o CSOL, já que a traição petista é realmente vergonhosa porque o PT sequer aplicou parcialmente as medidas do programa democrático e popular. Por outro lado, o programa democrático e popular não deve ser defendido pelo PSOL, nem creio que possa ser reivindicado historicamente como correto porque vendeu - e se reivindicado como método seguiria vendendo - a idéia falsa de que se pode conquistar um governo dos trabalhadores sem grandes enfrentamentos e sem choques políticos e militares com as forças do capital. Por isso, cremos que tanto CSOL como a APS não respondem corretamente ao assunto. Plínio está ainda preso entre estas duas teses opostas que defendem seu nome e ele mesmo me parece não saber como responder ao problema. Por isso não respondeu a uma camarada da USP que lhe perguntou diretamente o que pensava do programa democrático e popular.
O MES seguirá defendendo a necessidade de uma elaboração estratégica do PSOL que resgate muitas bandeiras e medidas democráticas, econômicas e sociais do programa democrático e popular e ao mesmo tempo continuaremos defendendo o método do programa de transição segundo o qual é preciso mobilizar os trabalhadores por suas demandas mais sentidas e fazer com que se estabeleça a ponte entre estas mobilizações e demandas com a necessidade de um poder de novo tipo, um poder dos trabalhadores e do povo.Poder que somente será conquistado com luta, combinando a participação das mais diversas formas de luta, entre as quais a eleitoral, mas que somente poderá ser conquistado e mantido com a derrota política e militar das forças da burguesia e da contra-revolução.
Como vejo gente falando bobagem, Martiniano não é laranja de Marina Silva e nem de ninguém. Martiniano é um candidato consciente e que tem toda legitimidade para ser o candidato do PSOL.
ResponderExcluirO PSOL-MES rompeu com a idéia Marina Silva e apresentou o melhor candidato para unir as esquerdas.
Ótimo texto!
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