quinta-feira, 27 de maio de 2010

O tranquilo Gabeira

Fernando Gabeira é um dos melhores políticos brasileiros da atualidade. Culto e tolerante, lida com as situações mais difíceis com humor e bonomia. Na semana passada, ele esteve em Porto Alegre participando do VI Fórum Político Unimed. Na sexta-feira, foi ao "Esfera Pública", programa da Rádio Guaíba apresentado por Taline Oppitz e por mim todos os dias das 13h às 14h. Mostrou a elegância de sempre. Um ouvinte mandou um torpedo para avisar que estava desligando o rádio para não ter de ouvir um sequestrador. Outro, perguntou se o embaixador americano, sequestrado em dezembro de 69, teria escapado com vida por Gabeira, supostamente escalado para matá-lo se fosse necessário, ter amarelado. A resposta de Gabeira foi exemplar: "Ainda bem que o embaixador não morreu. Era um homem extraordinário e merecia viver muitos anos".

O tempo passou. Gabeira nunca deixou de melhorar. Ele e os seus companheiros lutaram contra uma ditadura militar feroz, bem distante da ideia de "ditabranda" defendida e depois negada pela Folha de S. Paulo. Saberemos mais disso assim que um presidente da República tiver a coragem de abrir os arquivos do período militar. A maior parte dos sequestros aconteceu em 1970, auge da repressão comandada pelo ditador gaúcho, de plantão em Brasília, Emílio Médici, o nosso Pinochet. Gabeira e os seus amigos estavam certos. Era preciso enfrentar a ditadura por todos os meios. Mas esse mesmo Gabeira que foi para a luta armada é hoje um adversário de qualquer revanchismo. Quer a abertura dos arquivos, mas não está interessado numa "Comissão da Verdade", ao menos não com um nome desses. Deseja avanços na política de direitos humanos, mas não defende a revisão da Lei da Anistia.

O argumento de Gabeira em relação à Lei da Anistia é simples: ficou feliz, em 1979, quando ela foi aplicada, permitindo que ele pudesse voltar ao Brasil, e não contestou a sua legitimidade. Não acha correto contestar essa legitimidade agora que a correlação de forças mudou. A esquerda mais dura anda furiosa com Gabeira, acusando-o de ter virado um "demotucano". Em termos de alianças e apoios esdrúxulos, no entanto, os petistas não podem dar lições a quem quer que seja. O PSOL pode. Não é de hoje, porém, que Fernando Gabeira não trilha os mesmos caminhos da esquerda convencional. Pega atalhos. Gabeira tem realizado a difícil arte de não ser de esquerda, no sentido ortodoxo da palavra, sem virar de direita nem ficar no centrismo oportunista dos que vivem em cima dos muros para melhor cair para o lado mais conveniente.

O presidente Luiz Inácio tem sido criticado por não ter feito o que a direita desejava publicamente que ele não fizesse, mas esperava, em silêncio, que praticasse. Seria mais fácil atacá-lo se tivesse se tornado um Hugo Chávez. Gabeira conhece esse tipo de crítica malandra. Sempre esperam dele que corresponda ao perfil mais criticável. Ele nunca está onde o esperam. Pena que deixou de escrever livros. Era um belo escritor. Deve ter percebido que a literatura brasileira é ainda mais medíocre do que a nossa política. E o Rio o esnoba!

Texto de: Juremir Machado da Silva

Fonte: www.correiodopovo.com.br

Um comentário:

  1. Robaina não entendi qual tua intenção em reproduzir o texto do Juremir. Como jornalista ele tem todo o direito de opinar sobre o que bem entender e da forma que achar melhor. Ele escreve coisas ótims e outas nem tanto. Mas um filiado e salvo engano presidente do Psol-Rs publicar sem qualquer critica pro bem ou pro mal esse texte elogioso ao Gabeira não sei não...

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