terça-feira, 22 de junho de 2010

A década em que aprendemos a chorar- futebol e política

Reproduzo o artigo de Israel Dutra e Rodolfo Mohr, companheiros da juventude do PSOL.

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Por Israel Dutra e Rodolfo Mohr

Nosso país tem diferentes datas magnas. A mais usual e arbitrária é a que define como marco fundador do país a chegada de Cabral, em 1500. Outros, mais prudentes, escolhem como 1822, o referencial de independência e de “fundação” do Brasil. Como expressão dos conflitos do século XIX, as lutas regionais, a idéia de unidade nacional, a maior parte dos progressistas elegeria a proclamação da República, como o verdadeiro “ponto de ruptura”, um ano zero para o Brasil como é conhecido hoje.

Polêmicas historiográficas. Visto que não há consenso, poderíamos acrescer uma outra data: o ano de 1950. Seria a primeira vez que o Brasil inteiro se enxergaria como uma unidade? Seria o começo da popularização de uma das maiores instituições do país, o Futebol? Estas perguntas, e suas respostas, são controversas. A única certeza que foi a primeira vez que todo o país chorou. A primeira derrota nacional. Um país para existir como uma nação precisa ter sua derrotas. E Obdúlio Varela ajudou a garantir este aspecto de nossa unidade nacional.

Os anos 1950 começaram com a reinvenção da Europa após a segunda grande guerra. O Brasil experimentava seus primeiros anos democráticos. Eurico Gaspar Dutra era o Presidente do Brasil no primeiro ano da década. Vivíamos novos tempos após o fim do Estado Novo, a ditadura Varguista. O populismo imperava na política nacional. Getúlio voltou nos braços do povo, saiu da vida e entrou para história metendo uma bala no peito. Juscelino Kubitschek tornou-se célebre por prometer desenvolver o Brasil “50 anos em 5”. O crescimento da indústria transformou um país agrário em urbano. Camponeses em operários. O Rio de Janeiro desfrutava anos de cidade maravilhosa. Seus cronistas registravam as mudanças de costumes. A então capital do Brasil foi palco da nossa tragédia grega, operada por pés uruguaios.

Mas, quem era aquele grupo modesto, encarnado no uniforme celeste? Uma pequena pátria em chuteiras, de um país que estava no auge de seu desenvolvimento. Uma verdadeira potência do futebol mundial. A Celeste tinha uma tradição que ninguém tem: foi anfitriã da primeira Copa do Mundo, em 1930. Fez o dever de casa, deixando em Montevidéu a taça. Dono desta tradição, os uruguaios comemoraram em pleno Maracanã o seu tetracampeonato, como o povo deste país costumava contar. Tetra? Sim, tetra aos 50. Os nossos hermanos orientales contabilizavam a conquista de 30, somando também as medalhas de ouro nas Olímpiadas de 1924 e 28. Dito e feito. O esquadrão urugaio calou o Maracanã, liquidou com a honra do goleiro Barbosa e fez o país chorar. É certo que o Brasil choraria mais vezes, com a volta do irmão do Henfil, com a morte de Tancredo, com a retenção das poupanças de Fernando Collor. Mas, a primeira vez a gente nunca esquece.

E o time do lado de lá? Tetra ou bi, o fato foi que a conquista uruguaia correspondia a outro momento da história daquele país. Em 1950, o Uruguai era conhecido como Suíça da América. Altos indíces de escolaridade, acesso à saúde e uma cultura vasta justificavam esta alcunha. O Uruguai de hoje, enfrenta dificuldades e crises, subjugado por anos aos interesses das grandes e médias potências. Porém, segue sendo um povo simpático e honesto, com a maior parte de seus conterrâneos vivendo fora do país. E com os livros de Benedetti e Galeano colonizando positivamente o mundo. Até nos braços de Barack Obama. O mundo mudou depois daquela tarde.

E é nos anos de 1950 que surge Pelé. Heterônimo de Edson Arantes do Nascimento. O que consagrou o futebol como espetáculo e arte. E resultados. Pelé só é Pelé por ter vencido três Copas. Duas como herói, uma como lesionado. Justo quando o rei virou plebeu, o boêmio-malandro-driblador virou majestade. O mulato Garrincha no Brasil e o negro Eusébio em Portugal eram o que o futebol mundial tinha de africano nos 60. Semana que vem é eles que vamos visitar

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