quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Max Weber

Estou escrevendo um pequeno livro que entre outras questões traz notas breves sobre Max Weber. São notas críticas, mas reconheço ao mesmo tempo sua capacidade. Antecipo uma das passagens brilhantes deste pensador alemão que realmente podemos considerar uma aula de política. Trata-se da relação entre o sentido das proporções e da vaidade. Weber argumenta que a paixão é fundamental na política mas a mesma não transforma um homem em político se não estiver a serviço de uma causa nem tampouco faz da responsabilidade o elemento ordenador da ação. Para isso Weber sustenta que é determinante a qualidade psicológica da medida, “a capacidade para deixar que a realidade atue sobre a pessoa sem por isso perder o domínio e a tranqüilidade” (Editorial Presença – Lisboa - página 115. A partir daí vem a parte mais interessante e a lição mais lúcida. Weber define que para ter sentido das proporções o político deve combater a tão comum vaidade, “inimiga de toda entrega a uma causa e de toda a medida, neste caso particular a medida de si próprio”. Depois de comentar as repercussões da vaidade em outras atividades humanas, como na ciências, concluindo que neste caso seus estragos não são graves, Weber vai ao grão. Não é nenhum exagero cita-lo longamente:
“No político, que utiliza inevitavelmente como arma o desejo do poder, os seus resultados são muito diferentes. O “instinto de poder” como se lhe costuma chamar, está assim, de fato, entre a suas qualidades normais. O pecado contra o Espírito Santo de sua profissão começa no momento em que este desejo de poder deixa de ser positivo, deixa de ser exclusivamente ao serviço da “causa” para se converter em pura embriaguez pessoal. Em última análise só existem dois pecados mortais na política: a ausência de finalidades objetivas e a falta de responsabilidades. Esta coincide frequentemente, embora não sempre, com aquela. A vaidade, a necessidade de aparecer em primeiro plano sempre que seja possível, é o que mais leva o político a cometer um destes pecados ou os dois ao mesmo tempo. E tanto mais quanto é certo que o demagogo é obrigado a ter em conta o “efeito”; por isso se encontra sempre no perigo de se converter em comediante ou de não dar a devida atenção à responsabilidade que lhe incumbe as conseqüências dos seus atos, preocupando-se apenas com a “impressão” que provoca. A sua ausência de finalidade objetiva torna-o propenso a procurar a aparência brilhante do poder em vez do poder real” (idem, página 117)
São sábias palavras. Acredito que Weber está completamente certo ao afirmar a vaidade como principal defeito de um político que queira realmente servir a uma causa coletiva. E acrescentaria que é a principal base psicológica para o oportunismo político que busca sempre o resultado no presente, imediato, mesmo que para tanto tenha que abdicar do futuro.

3 comentários:

  1. Interessante, porque Weber era reconhecido nos círculos intlectuais pelos quais andava como um homem extremamente vaidoso... hehehe. Inclusive reza a lenda que os debates que ele não conseguia vencer no argumento, frequentemente, resolvia em duelos de florim. Quem prestar atenção nas suas últimas fotos verá seu rosto com muitas cicatrizes, pois a "vitória" dos debates se dava quando um dos adversários conseguia riscar o rosto do outro com o florim. Talvez por essa clareza e pela sua própria vaidade tenha abandonado a Segunda Internacional e a política dedicando-se excluisivamente à ciência e batalhado pela "despolitização" da pesquisa científica.

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  2. Errata para Bernardo: A arma utilizada para os duelos é o florete. Florim era uma moeda usada no renascimento.

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