segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mimi o metalúrgico

O clássico político de Lina Wertmuller chegou às locadoras. É uma bela notícia. A diretora italiana conseguiu falar da realidade de seu país, em 1972, com humor, graça, drama e sensualidade sem perder o foco. Giancarlo Gianinni é Mimi, um operário da construção civil na Sicília controlada pela Máfia. O partido comunista luta para ganhar a prefeitura, mas os mafiosos controlam os votos mediante ameaças. Mimi se deixa convencer por um amigo que o voto é secreto e ele pode votar na esquerda sem medo. Não era verdade. Numa comunidade pequena, os "capos" tinham como saber e ele perde o emprego. Sem opção de trabalho, escapa para Milão, a capital industrial do país. Lá descobre que quem manda também é a máfia.

Durante um episódio sangrento, que causa a morte de um operário, Mimi resolve peitar um dos gerentes do crime organizado e quase é morto, mas ao informar seu nome completo e sua origem siciliana, descobre que é parente distante de uma família de capôs e sua vida muda. Aí é o momento em que o filme dá um salto de qualidade. Mimi quer o amor, depois que encontra a bela Agostina Beli, quer lutar pela esquerda, filiando-se ao PC, quer associar sua vida a de seus companheiros, mas sua vaga origem o joga constantemente para o outro lado. Outros aspectos pouco saudáveis do homem italiano também não passam despercebidos para Lina. Ela denuncia o patriarcado que aflora em vários momentos nos atos de Mimi. Sua ingenuidade diante dos modelos de comportamento fica clara. O título original, Mimì metallurgico ferito nell'onore, se refere, especificamente à noção de honra que o protagonista sente ferida, sem perceber que é a mesma honra da máfia, dos patrões, dos machões e dos bandidos. Imperdível.

Flávio Braga é escritor

Fonte: Fundação Lauro Campos.

Um comentário:

  1. O texto é legal. O filme é legal. Mimi é legal.
    Porém, vale registrar que o filme carrega certo preconceito contra os trotskystas, que aparecem como demasiados estreitos, idealistas, sendo ridicularizados.
    Numa das cenas, um diálogo entre metalurgicos é cômico: nenhum dos dois seque consegue pronunciar até o fim a palavra "trotskysmo", engasgando e se confundindo.
    Apenas anoto este "detalhe".
    Sem mais, o blog está cada vez melhor.
    Israel

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